O Desvio do Tempo, a odisseia do viajante no Castendo


Publicado por:

a

em

O Desvio do Tempo, a odisseia do viajante no Castendo

O Castendo é Roriz, o Mosteiro do Santo Sepulcro, o Mareco, vistos de outra ronda.

A alma de viajante parte de Viseu, alheia à Estrada Nacional 16, num assomo de património rodoviário. O caminho faz-se pelo cruzamento de Povolide, onde se pedem mãos atentas e ouvidos no motor, a estrada é fabulosa, mas sinuosa, e exige contemplação. A subida é um prazer para os amantes dos automóveis, que cortam logo à direita, para o coração do Pindo. É um dever servi-lo com a elegância da prosa. A jornada começa na tranquila aldeia de Encoberta, onde os caminhos rurais da Beira Alta o esperam.

Antes da Rebôtea, está a Adega da Corga, um projeto que exprime a vocação das vinhas velhas. Porém levamos destino ao coração recôndito do Dão, onde o tempo se mede em vindimas e o luxo é o silêncio da terra. A Quinta da Rebôtea, em Pindo, é esse segredo bem guardado, e o cabrito assado na grelha merece este palco sublime de granito e vinho. Telefone a marcar e tome-o como um desvio para a serenidade, o ponto onde a civilização se curva perante a paisagem.

O trajeto, com cerca de 8,4 km e 12 minutos, desenrola-se pela Nacional 329-1, a coluna vertebral desta paisagem. A via, de asfalto gasto e honesto, abraça os montes, forrada por pinhais e vinhedos que desenham mosaicos perfeitos no declive.

Chega-se ao cerne da Região Demarcada do Dão, um território de matriz granítica onde a videira sofre e, por isso, se sublima. A Quinta da Rebôtea está enraizada na sub-região de Castendo. Aqui evoca-se a austeridade da pedra e o frescor das altitudes, o Dão não é apenas vinho, é geografia líquida de berço austero.

O solo, maioritariamente composto por granito friável, confere uma acidez cortante e luminosa aos vinhos. É um terroir de perfis elegantes e nervosos, onde o ciclo da videira é lento, proporcionando uma maturação completa e um equilíbrio que é a chancela da verdadeira nobreza.

A paisagem é uma tela rústica, mas sublime: vales profundos, pinhais que orlam o horizonte e vinhas aninhadas em socalcos que se agarram à encosta como um manto tecido. O ar, fresco e seco, carrega o cheiro a carqueja e a resina, garantindo noites frias que fixam a acidez vibrante nas uvas. Beber um Dão de Castendo é provar a persistência do granito e a luz do planalto.

O cabrito, que se pede marinado de véspera com pimentão-doce, alho e vinho tinto, encontra na Quinta da Rebôtea o grelhador perfeito. O contraste será magnífico, a gordura suculenta e selvagem da carne, desfeita pela cozedura lenta, será limpa pela espinha dorsal ácida de um tinto do Dão, fresco e vertical.

Que o fogo do assado e o cobre do alambique, porque a aguardente acompanha sempre o fim da refeição no Dão, sejam os guardiões deste momento secreto. Que o rumor dos destiladores se misture com a conversa e que a odisseia se transforme no mais demorado dos brindes.

A sua escala final faz-se na descida em direção à Ponte do Cavalo. Ao atravessá-la, olhe o Rio Dão, a artéria fluvial que batiza a Denominação de Origem. A sua odisseia termina ali, mas o conhecimento começa agora. um vinho que nos ensina que a verdadeira beleza reside na espera.

Brindo ao seu cabrito e ao seu descobrir no coração de Castendo.

Carrinho0
Não há produtos no carrinho!
Continuar a comprar
0