O calendário beirão assinala a Feira das Febras, e com ela, Mangualde, no coração da sub-região vitivinícola de Terras de Azurara, transforma-se num epicentro de fumo e sabor. Os Santos trazem-me todas as recordações de uma infância feliz e a lembrança de minha mãe que pregava, e fazia, que casacos compridos só a partir desta data que, no calendário, traz também a Feira das Febras, o popular e carinhoso nome que atribuímos à Feira dos Santos de Mangualde, um evento grande e secular.
Chega sempre no primeiro fim de semana completo de Novembro, coincidindo ou ficando perto do Dia de Todos os Santos, dia um.


O nome popular deriva da forte tradição gastronómica, onde as febras, bifes de carne de porco grelhados na brasa, os torresmos e os enchidos locais são o destaque, com muitos assadores espalhados pelo recinto. É uma feira grande, popular e muito diversificada, enfim uma montra do que de melhor o concelho de Mangualde tem para oferecer. E é muito. Além das febras e torresmos, há queijo Serra da Estrela, doçaria, pasteis do Patronato à cabeça e a importante Expovinhos, valorizando os Vinhos do Dão. Também há comércio e indústria, dezenas de expositores com artesanato, agropecuária, máquinas e alfaias agrícolas, e mostra do tecido empresarial. E, não podia faltar, um programa de animação, música, encontros de confrarias e muitas outras atividades.


E é necessária arte e engenho para combinar a tradição, secular e de forte espírito comunitário, a mostra económica e a celebração da gastronomia e produtos locais, com as famosas febras como o seu grande chamariz. Na Feira das Febras em Mangualde, as carnes são muito procuradas, sendo as febras mais magras e a entremeada mais gorda e saborosa, perfeitas para serem assadas nas tradicionais grelhas da feira e esta é, perdoem o atrevimento, a forma mais autêntica de vivenciar o espírito da Feira das Febras em Mangualde. Aqui está o porquê de ser a combinação perfeita, comprar as febras diretamente nos talhos e assá-las nas churrasqueiras disponibilizadas na feira é a grande tradição comunitária, e central, do evento, oferecem o sabor e o cheiro inconfundíveis da carne fresca grelhada, as conversas, o Dão e o encontro. Acresce que as carnes de porco saborosas e com alguma gordura, são tradicionalmente acompanhadas por um Vinho Tinto do Dão, eu aconselho um jovem, entre 2021 a 2023.
A Adega Cooperativa de Mangualde, sub-região de Terras de Azurara, é o produtor mais proeminente. Os seus tintos, prove um ‘Castelo de Azurara’, são conhecidos por serem encorpados e com boa estrutura tânica, o que é ideal para cortar a gordura da carne de porco, limpar o paladar e realçar o sabor da febra.
Este é um ritual que combina o melhor da gastronomia local com o emblemático vínico.

Saiba que febras e entremeada são cortes de porco distintos, usados tipicamente para grelhar. As febras são basicamente fatias de carne magra. Podem ser obtidas de várias partes do porco, mas são tipicamente retiradas da perna, uma fonte comum de carne magra, que pode ser cortada em bifes ou bifanas, fatias finas, ideais para fritar ou grelhar. Também saem do cachaço, um corte muito popular. Embora seja magro, possui alguma gordura entremeada, o que o torna muito suculento e saboroso para grelhar, sendo por isso frequentemente escolhido para febras assadas na brasa. As febras são, por definição, fatias musculares obtidas por seccionamento da carne, geralmente desprovidas de osso, gordura subcutânea ou courato.
A entremeada é um corte retirado da região da barriga do porco, conhecida em alguns países como barriga de porco ou pancetta, uma tira de carne que contém várias camadas: carne magra, uma boa porção de gordura e, muitas vezes, o courato, a pele do porco que se quer estaladiça. Esta combinação de gordura e carne é o que lhe confere um sabor e suculência únicos quando é bem passada na grelha.

O certame tem mais de 300 anos de história, surgiu como grande evento mercantil, onde as pessoas da região se reuniam para comprar e vender os mais variados produtos, desde alfaias agrícolas e gado até vestuário, louças e produtos para o ano inteiro. E acontece no início de Novembro, quando chega o fim do ciclo agrícola, após as colheitas e antes do Inverno, sendo o momento ideal para fazer negócios, adquirir bens essenciais, como as tradicionais botas de carneira para a escola, ou para o passeio.
A facilidade e o prazer de assar e comer a carne fresca e os enchidos locais, como as febras e os torresmos, adquiridos nos talhos ambulantes, tornaram-se uma imagem de marca, um verdadeiro ritual que sobrevive até hoje.
Como ir?
Ver local: https://maps.app.goo.gl/8Q3QhD8Jch5YNoMr9
Vindo de Sul pelo IP-3 e depois, em Santa Comba Dão, IC 12 até Mangualde. Vindo de Norte, apanhar a A 25.
O que ver?

O ambiente festivo repousa sobre uma história de maior quietude e solenidade. A poucos quilómetros, a história condensa-se no Real Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão. Classificado como Monumento Nacional, este antigo mosteiro cisterciense, fundado no século XII e protegido por D. Afonso Henriques, é um testemunho da profunda raiz religiosa e agrícola da região. Ali, onde os monges cultivavam a terra e a vinha, a arquitetura gótica e barroca resiste ao tempo.


Assim, Mangualde oferece um diálogo entre a fartura popular da Feira das Febras e a austera resiliência do Mosteiro de Maceira Dão. O percurso entre o fumo do carvão e o silêncio da pedra não é apenas uma viagem de carro, mas uma travessia no tempo, do vigor da tradição presente à profundidade de uma história secular..
Ambos, festa e monumento, definem o carácter rico e contrastante da sub-região de Azurara. No Dão, pois então.
O que comprar?

Carne, de muito boa qualidade e produzida em regime extensivo, pasteis do Patronato e vinho da Adega de Mangualde.
A quem perguntar?

Em Mangualde todos são hospitaleiros e ajudam ao caminho, contudo há uma loja de turismo, mesmo nos Paços do Concelho.






