Eis um itinerário que nos leva de Azurara ao Alva, no limite Sul e a face mais histórica da região do Dão, combinando o vinho com a tradição do Queijo Serra da Estrela. Uma viagem ao coração da Beira Alta, navegando pelas estradas que ligam a excelência do Dão, dos seus vinhos de altitude ao tesouro cremoso da Serra da Estrela. É um percurso onde o tempo se curva à história e a paisagem é dominada pela poética do granito, o solo que dá carácter e mineralidade a tudo.



A jornada começa em Mangualde, onde o peso da história se sente no imponente Mosteiro de Moimenta Maceira Dão. De Mangualde, deixe o centro urbano e tome a Estrada Nacional 232, em direção a Gouveia e Seia. Esta estrada não é apenas um caminho; é uma ascensão em direção à Serra da Estrela, a mais alta das sub-regiões do Dão, onde o pinheiro e o granito se unem. Chegado a Vila Nova de Tazem, percorra o seu núcleo antigo ao longo da Rua Doutor António Borges e da Avenida Doutor Joaquim Borges. Estas vias levam-no ao coração da produção vinícola de altitude.



Aqui, fará a imersão na Adega Cooperativa de Vila Nova de Tazem ou na vizinha Casa Américo, propriedades onde o granito e as amplitudes térmicas criam vinhos de notável frescura, a verdadeira elegância da Serra da Estrela. Estamos nas montanhas, visite o Palacete Pires do Valle, em Mangualde da Serra, granito é aqui esculpido em beleza. Daqui ao Alva, a viagem leva cerca de 37 minutos.

Deixe o frio do planalto de Tazem e desça em direção ao sul, à sub-região marcada pelo Rio Alva. A descida para o Alva faz-se pela mesma estrada, procure a Estrada Nacional 17, a célebre Estrada da Beira, uma via histórica que acompanha as margens dos rios e liga a Beira Alta à Beira Litoral. A sub-região do Alva, no Dão, deve o seu nome ao Rio Alva, afluente do Mondego, que nasce na Serra da Estrela e molda a paisagem e o microclima desta área. Geograficamente, situa-se no limite sul do Dão, junto às serras do Açor e da Lousã, e distingue-se pela sua riqueza histórica e enológica.



O Alva oferece uma experiência que vai além do vinho. É um local de confluência histórica, onde as ruínas romanas de Bobadela e a tradição olivícola se misturam com os elegantes vinhos do Dão e culminam na degustação do cremoso e mundialmente famoso Queijo Serra da Estrela DOP.




Em Oliveira do Hospital, procure a localidade de Bobadela. É aqui, na rua onde hoje passa o quotidiano, que encontrará as imponentes Ruínas Romanas de Bobadela.
Este local milenar, onde existiu uma cidade romana, prova que a cultura do azeite e da oliveira se enraizou aqui muito antes da demarcação do Dão. A Bobadela é a memória de que o terroir beirão é um berço de civilizações.
O Alva, tal como a vizinha Serra da Estrela, beneficia de maiores amplitudes térmicas, com noites mais frias devido à proximidade da Serra da Estrela e do Rio Alva, o que é crucial para a qualidade do vinho. Os vinhos do Alva são reconhecidos pela sua elegância, frescura e aromas equilibrados. A alta altitude da região permite que as vinhas maximizem a fotossíntese, resultando em uvas de maturação lenta e que mantêm uma excelente acidez.

O solo é predominantemente granítico, como em todo o Dão, ácido e de baixa fertilidade, o que confere aos vinhos a mineralidade e longevidade. Embora seja uma sub-região com menos produtores visíveis do que outras áreas do Dão, é um ponto de interesse em roteiros que exploram a combinação de vinho e azeite, dado o seu forte passado ligado à produção de azeitona.
Oliveira do Hospital é o centro administrativo e gastronómico desta região, o nome remete para a histórica importância na produção de azeite desde o período romano.

A freguesia de Bobadela é um dos seus maiores tesouros. Foi uma importante cidade romana, que remonta ao período neolítico, e um centro de consumo de azeite, com vestígios arqueológicos notáveis que ligam o vinho à história antiga da Península Ibérica. É uma paragem obrigatória para quem procura a história que precede o vinho moderno.
Além do vinho, é um pilar da olivicultura no Centro de Portugal, com azeites virgens extra que tendem a ser picantes e ligeiramente amargos, com notas de couve e tomate, sobretudo da variedade dominante Galega Vulgar. Embora o Alva se dedique ao vinho, Oliveira do Hospital é um dos municípios fundamentais na produção e celebração do produto gastronómico mais icónico da Beira: o Queijo Serra da Estrela. Considerado o mais antigo queijo português, com menções que remontam ao século XII, o Queijo Serra da Estrela possui a certificação Denominação de Origem Protegida. É feito exclusivamente com leite cru de ovelhas das raças Serra da Estrela ou Churra Mondegueira, criadas na área demarcada e coagulado com a flor do cardo, o que lhe confere a sua textura única. A pasta é semi-mole, amanteigada, cremosa e untuosa, de cor branca ou ligeiramente amarelada. O sabor é suave, limpo e ligeiramente acidulado. O seu aroma único torna-o irresistível, sendo um símbolo da gastronomia portuguesa.




Tecer jornada com o granito, a paisagem e os nomes das estradas, transformando-a numa experiência de descoberta poética e geográfica. Aqui, a poética do granito ganha um novo sentido: é o solo onde a pastagem das ovelhas de raças autóctones se nutre. Na queijaria artesanal, verá como o leite cru é coagulado pela flor do cardo, transformando a aspereza da montanha numa pasta semi-mole, cremosa e amanteigada. Este queijo, que pode degustar na cidade, é o reflexo gastronómico da dureza e da riqueza da Serra. É a prova de que o terroir não se expressa apenas no vinho do Alva, elegante e mineral, mas também na gastronomia que o acompanha.
A sub-região do Alva, localizada a sul do Dão, junto às fraldas da Serra da Estrela e da Serra do Açor, é uma terra onde o tempo corre mais devagar e onde o vinho se molda pela brisa fresca das montanhas. O seu nome, emprestado pelo Rio Alva, não evoca apenas a água que corre, mas sim a altitude e a elegância austera do terroir.

A paisagem do Alva é marcada por encostas mais elevadas, onde as vinhas se plantam em cotas consideráveis, enfrentando invernos rigorosos e gozando de uma característica vital: a grande amplitude térmica. Durante o dia, o sol da Beira Alta amadurece as uvas; durante a noite, a descida acentuada da temperatura, influenciada pela proximidade da Serra da Estrela, atua como um travão natural, preservando a acidez e os aromas da baga. É no solo de granito que esta história de frescura se enraíza. O granito, pobre e ácido, limita a produção e obriga a videira a lutar, resultando em uvas de grande concentração e pureza.

O estilo dos vinhos do Alva é uma ode à elegância e à tensão, não são vinhos de músculo pesado, mas sim de estrutura e fineza. A Touriga Nacional, o Jaen e o Alfrocheiro, aqui plantados, expressam-se de forma mais contida e aromática, revelando notas de frutos vermelhos frescos, quase silvestres, envoltas numa mineralidade palpável. São vinhos que envelhecem magnificamente, ganhando uma complexidade de cedro e especiaria suave ao longo dos anos, mantendo sempre a espinha dorsal de acidez que os torna gastronómicos.



Os Brancos do Alva são aclamados pela sua vivacidade. As castas Encruzado e Bical encontram no clima frio do Alva o ambiente ideal para brilhar. Estes brancos são cristalinos, com aromas a limão, flor de laranjeira e pedra molhada. São vinhos de grande frescura e tensão, que evitam a opulência, privilegiando a delicadeza e a capacidade de guarda. Provar um vinho do Dão Alva é como respirar o ar puro da Serra ao amanhecer: é uma experiência de pureza, frescura e clareza de sabor, um testemunho da forma como a austeridade da paisagem pode dar origem a uma sedução subtil e memorável no copo.
O regresso a Viseu é a conclusão perfeita, levando-o da aspereza da serra para o coração urbano do Dão. Viseu, a Cidade-Jardim e Cidade Vinhateira, concentra o património do vinho e oferece a tranquilidade da Ecopista do Dão.
Eis o roteiro, a jornada do granito ao cosmopolitismo de Viseu.






