Solta o fuzil ao alto, ação e reação. Já lá vou, antes o vinho e a razão por que se provam e reprovam vinhos. Este é bom, mas traz uma cortiça desencachada do currículo. Para ver da coerência, é disso que nos refresca a memória. E se a cápsula é dura de retirar, é porque esconde segredo.

A economia de escala tem disto, o consumidor não gosta e os financeiros têm de pensar se compreendem o negócio e a identidade das regiões demarcadas. Gosto dos dois, tenho-me como amigo dos produtores, mas abrir um vinho do Dão com uma rolha da Pacheca, que é Douro crismado num 10 de Junho de há dez anos, até a mim me deixa banzado. Falta aqui harmonia e consistência. Não pode ser, sob pena de este consumidor deixar de o beber.
O que seria uma pena. Floral, impetuoso, jovem. Ideal para tardes de modorra, doce e terno. Enrubescido sim, com toda a certeza. E perfeito, mesmo sendo de 2024, criado com as castas Encruzado e Bical, a 35%, a Malvasia Fina completa lote harmoniso, que chega com 13º. Sim, reclama entretém de boca, mas é prazenteiro e estruturado.
O Titular Colheita Branco 2024, produzido pela Caminhos Cruzados, tem ali um perfil aromático expressivo, mineralidade e boa acidez. Cor citrina brilhante, com reflexos esverdeados. No nariz, revela toda a fruta, vivo, fresco e com boa acidez, apresentando final limpo e persistente.
É um vinho versátil, com um custo de 7,50 €, num branco de perfil moderno, como o produtor nos habituou, e bem conseguido. Mostra bem, e agora andam todos a descobrir os brancos do Dão que sempre cá estiveram, o potencial do Dão.
No Relatório da Colheita 2024 podemos constatar que foi marcada por um ano climático equilibrado, com Inverno húmido e de Primavera amena, que permitiram um bom desenvolvimento vegetativo. O Verão foi quente, mas sem extremos, e com amplitudes térmicas significativas, especialmente em Nelas, onde estão as vinhas da Caminhos Cruzados.
Estas condições favoreceram uma maturação lenta e completa das uvas brancas, preservando a acidez natural e potenciando a expressão aromática das castas como o Encruzado e a Malvasia Fina. A colheita decorreu em boas condições sanitárias, permitindo uma seleção criteriosa das uvas.
Este Branco Colheita de 2024 traz um rasgo de irreverência que me delicia, expressivo, promete excelente evolução em garrafa, mas, eu, tomado de ares modernos escorropichei-o mais a Anita, numa destas tardes já acaloradas e que pedem frescura. E rolhas neutras ou identitárias do Dão. Se um tipo se aventura na segunda garrafa, e merece-a, assusta-se. Autenticidade, no vinho está, falta na vestimenta.
