A arte do prego


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A arte do prego

O Lorde tinha uns pregos famosíssimos, porém o meu favorito era o do Bingo, que chegava à caserna numa pausa da jogatina, engrossado com bom queijo, fiambre, manteiga em pão ligeiramente tostado e avia. Também havia, mas no aviar é que estava o ganho, 300 escudos, 1,5 euros nos dias de hoje sem correção monetária. Isto em Viseu, nos anos 90, por aí assim. Verde Gaio também é poiso merecido, com espaço para fumadores e vinhos para apostadores.

Hoje o prego tem três geografias, Jugueiros, Verde Gaio e o 55, para quem está na cidade. Desvios, só no IC-1, em Grândola, para a gasolineira da BP, ou, cá mais atrás, na Benedita.  Chamemos os bois pelo nome, as coisas pelos nomes, o prego é uma sanduíche deliciosa, tipicamente feita com um bife de vaca muito fino, às vezes batido para ficar mais tenro que é grelhado ou frito, deixem isso à bifana que já lá vou, antes todos os nomes, prego é carne amaciada, temperada, sal e espeta o bife no pão.

Depois, mistura-se o bitoque, ora vejam, ‘Prego no Pão’, versão mais clássica, o bife no pão, muitas vezes com mostarda e molho picante. Umas chips à parte. O dito ‘Prego no Prato’, traz o bife, da vazia ou do lombo, maciez na carne bovina. Este músculo, pouco exercitado, confere à peça uma estrutura fina e delicada. Visualmente, apresenta uma cor vermelho-púrpura mais uniforme e escura que outros cortes.

Caracteriza-se pela sua quase total ausência de gordura e minúsculo brasado, para mim com as marcas da grelha. Quando colocam o bife no prato e lhe montam o ovo, isso é um bitoque, com pão frito por baixo da carne. Uma ode ao sabor, juntando a tradição portuguesa com um toque regional e uma picardia extra, de Manaus.

A Priscila mostrou-me esse banquete do Prego, um outro sabor, um hossana à hospitalidade, à alma e à bondade. Mãos de anjo, palato de menino mimado. Sai prego de picanha, duas grossas fatias de bom pão, sucos da carne, tira ao boi, das patas traseiras, logo acima da alcatra que, também pode dançar no centeio. Este, o da Priscila, vinha em bom ponto e boas pedras de sal, a pedirem vinho untuoso.

No coração da gastronomia portuguesa, o Prego é um ícone que evolui. Texturas e paladares, carne e pão emparelhados, temperos. O meu arrojou longe a sabedoria, carne no corte da picanha, inconfundível, situado na anca superior do animal.

Um naco de carne, espessa e uniforme camada de gordura. Lipídico, o claro do marfim, intensificador de sabor inigualável. A fibra muscular é longa e definida, de um tom vermelho-vivo. A carne é reconhecidamente mais tenra que outros cortes traseiros, com um marmorizado interno subtil e disperso.

Quando grelhada, a gordura exterior carameliza-se numa crosta dourada e crocante, libertando sucos aromáticos, não se preocupe reforce os guardanapos e pão com moenga também é bom, esses sucos que penetram e hidratam a carne, de sedosa textura, equilibrada a untuosidade, esse equilíbrio de gordo e a suculência da fibra magra. Sabor, maciez e gordura, é uma vontade, um capricho, um doidivanas, mas quem atrás de uma cozinha se atira a esta tarefa? Eu, que os como, atiro-lhe com bem-haja excelência.

Por camadas, pão rústico, côdea firme, as mãos agradecem e o pão bebe o suco da carne sem se desfazer. No lendário, e abusador Bolo do Caco madeirense, barrado com manteiga de alho e ervas, ligeiramente tostado. O crocante faz bem nos ouvidos.

A Pedra de Sal e o picante de estalo são outras raridades, simplicidade e pureza, o toque salino a rilhar carne, e estaladiço para impor sabor. Atrevidos merecem molho de malagueta esmagada, rastilho ao fósforo, segura-te paladar, vamos descolar, suave pão, carne rica, paladar. Se me contiver, refinar a descrição sóbria e adjetiva, está lá tudo.

Prego, uma ideia singular, banquete, intensidade, sabor. E o vinho, outros copos, do bom, apenas. O Prego merece-o.

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