Histórias


Nacional 17, vinhedos na Beira da Estrada

Percorria a Nacional 17, deliciado com o esplendor das vinhas, a música no rádio, os vidros abertos, o sol do meio-dia a maturar as uvas, subidas e descidas, esta imensa Beira, onde, a cada curva, novos cenários e, já em Seia, a Região Demarcada do Dão,  vinhas de altitude, um tapete verde, na montanha, videiras, robustas, adaptadas ao clima, e às suas oscilações, a desafiar a gravidade nas encostas inclinadas, prometendo, ali mesmo a complexidade e a frescura que caraterizam os vinhos da circunscrição. Nisto, uma paragem na beira da estrada, para retemperar energias e gravador. E foi ali, na Senhora da Lomba que o reencontrei. Ou melhor, que ele me topou, que eu, destrambelhado, não o vi. Gritou-me: “Amadeu, ainda nas rádios?”. E eu, com 40 anos de amizade às costas, sentei-me e alegrámo-nos. Com o reencontro, o olival e a vinha na bordadura do asfalto.

Quinta de Lemos

Saí de casa esbaforido. A camionagem ocupa espaço, há que balancear, mas antes esfalfado, afobado e apressado, mas não exausto, que faltar a um convite do Diogo Rocha, jamais. Aliás, estou tirocinado para ser desabalado, até açodado, vai para mais de uma dúzia de anos, sim que o recordo, sair em apuro e alvoroço de Castelo Branco, onde fora de terra em terra e me escapuli ao Mercado 2 de Maio e ele, sabendo-me na telefonia e como gostamos de brincar com as palavras, me diz para o microfone, um “Queijo Serra da Estrela tamanho roda de camião”.

Real vindima

A Quinta dos Reis, situada em Viseu, é uma propriedade vinícola com uma história rica e longa, que remonta a meados do século XIX. A paixão pela viticultura está vincada nesta estória contada, dobrado que está o centenário, já se enchem cubas e tonéis.

Jabuticaba! Encontrei-a no acaso da estrada. Descia a Nacional 231, a caminho de Seia quando enormes letras me pediram atenção. Fui a Seia, vim e desci, atravessando o coração do Dão, uma das mais importantes regiões vitivinícolas de Portugal.

Vem lá a Feira, a Grande Feira do Vinho do Dão!

Lá, nos socalcos do Dão, a vindima está por estes dias a começar e no Largo do Município celebrar-se-á o vinho. Lá, em Nelas, os vinhedos imensos, debruados por oliveiras, olhados por Dionísio, velados por Baco, guardiões de pipas e de cachos, que a terra é de quem a ama. A cuida e a trabuca.

A estrada das vinhas

Adoro estradas, tenho até ideias para elas, estradas que contam histórias, como a que atravessa Silgueiros. Está pensado, estruturado, falta-lhe porto, que em breve chegará. Das minhas favoritas, a EN-231 não é apenas um caminho. É um fio de ouro que serpenteia por entre a alma do Dão. Começa a dança em Silgueiros, onde cada curva desvenda um novo segredo. De um lado, o olhar perde-se em vinhas infinitas, que pintam as colinas de verde e ocre, como um mar de folhas à espera do sol. São vinhas em grandes quantidades, um tapete vivo, ordenado em linhas perfeitas que parecem desenhadas pela mão de um mestre.

Como andas tu Vinho do Dão?

A felicidade tem muitos nomes. Anita, Afonso, sol, vinho, pão, amanteigados, embutidos, inebriante. Mas este ano há pouco para celebrar. Numa fuga a esta insanidade, refugiado no mais Norte da Península, vi-me e desejei-me para encontrar Vinho do Dão, na restauração e no comércio. A promoção não está a fazer o seu trabalho, o vinho não sai das adegas do Dão para o cardápio da restauração e das garrafeiras e a aflição de muitos produtores é notória. Porque vão precisar do dinheiro para recuperar as vinhas.

Quinta da Perpita

No emaranhado de ruas que é Oliveira da Berreiros, sobram ruelas, adegas, vinhas e janelas para o lagar. Da geografia, o Dão ao fundo, a vinha do Contador ao longe, e, na atalaia, a elevação onde fica a Quinta do Amandinho, hoje na terceira geração.

A Perpita é um enlevo de vinhas, mas, no que me inquietou, de tecnologia. Lagares em cima, no andar térreo, cubas de mil litros e muita história. Isto, pensado há 120 anos, quando a eficiência energética ainda nem sequer aparecia no dicionário.

Esta sim, também, é terra da vinhateiros, de famílias que emprestaram nome e saber à qualidade destes excelentes vinhos.

O que andamos a beber?

Água, às vezes vinho, expedientes. Não o certificado, o que bebemos do bag in box, para acompanhar a bifana, refrescar o cigarro ou olhar a paisagem.

O que bebemos não é português! “Vinho da UE”! Assim, escrito nos bags, para nos dizer que ele não tem origem nacional. E isto é uma lástima. O comprar por chegar à porta, quando os nossos lavradores produzem bom, também para o bag, Corga ou Adega de Penalva, por exemplo.

33 Produtores no Tondela Brancos

Tondela Brancos, nascido há 10 anos para promover os vinhos brancos produzidos no concelho e na região demarcada do Dão, vai contar este ano com um recorde de produtores presentes, de todo o país.

Nesta décima edição do certame estão representados 33 vitivinicultores de vários pontos do país.

Dão. O Porto e Douro, a região dos Vinhos Verdes e Trás-os-Montes também marcam presença, a par do Algarve.

Quinta do Solar, Campo de Besteiros

15 hectares

40 mil garrafas,

200 000 euros de faturação

A Quinta do Solar, na Póvoa de Arcediago, produz vinhos de qualidade extraordinária. Denominados Maria João, são também uma história de amor.

Cepas do Salgueiral, Lajeosa do Dão

O último viticultor a chegar ao Dão foi Daniel Sobral, que resgatou as vinhas da família ao esquecimento, tem uma pequena adega e vinha nova em plantio.

Cepas do Salgueiral Lageosa do Dão: EP11 – Tondela Brancos

Daniel Sobral é um dos últimos players a chegar ao Dão. Cansado de ver as videiras do avô a definhar, chamou amigo e foi terçar viticultura. Dois hectares, a Cepas do Salgueiral na marca, e eu, que lhe fisguei uma prova da última vindima, anotei a previsão de engarrafarem 15 mil botelhas. Daqui Malvasia Fina.

Quinta do Solar, Campo de Besteiros: EP10 – Tondela Brancos

A Quinta do Solar, na Póvoa de Arcediago, produz vinhos de qualidade extraordinária. Denominados Maria João, são também uma história de amor.

Sei-o, porque o acompanho há bem mais de dois quinquénios. Maria João, uma Senhora, e Joaquim Coimbra, um Cavalheiro. Os vinhos, o enlevo com que cuidam das vinhas, e da casa que vem dos oitenta do outro século, permite-nos perceber o cuidado e o requinte.

Quinta dos Carvalhiços: EP9 – Tondela Brancos

Um Santo Vinho, produzido nesta quinta, localizada em S. Miguel do Outeiro e onde os abundantes carvalhiços, um tipo de carvalho mais rasteiro, deram nome a casa agrícola com referência a 1595. Aqui produzem-se 50 mil garrafas, valem 130 mil euros. Há “outros tesouros”, conta Paulo Machado, diretor da Fundação Dom José da Cruz Moreira Pinto, hoje Fundação S. José e proprietária deste formidável lugar.

Casa de Mouraz: EP8 – Tondela Brancos

A Casa de Mouraz, produz vinhos biológicos, reúne 35 hectares de videiras, várias marcas em 150 mil garrafas vendidas que colocam a faturação no milhão de euros.

A quinta aglutina várias parcelas de vinha, diferentes solos e altitudes. Protegidas pelos carvalhos e castanheiros, fecundadas com a água de pequenos ribeiros e temperada com o granito, algumas vinhas já chegam aos 400 metros de altitude.

Quinta das Camélias, Sabugosa

A Quinta das Camélias, em Sabugosa, foi adquirida em 2002, por Jaime de Almeida Barros, que reconverteu todas as vinhas.

Pelas imediações há lagaretas, que empurram para muito longe as

práticas vitivinícolas.

Mesmo a carta de Couto do Mosteiro de Lorvão, do ano de 1183, aponta “Sabugosam”, como referência de vila, e de lá siaram vinhos para os monges.

Quintas de Syrlin, Canas Santa Maria

As altas árvores, teixos e carvalhos, marcam o caminho, uma longa e bela calçada, ligeiramente a subir, até à casa. No outeiro, a marca, nos flancos a casa de família e a adega.

Ali estão um engenheiro e uma psicóloga. Augusto e Rosário Teixeira fazem do vinho, também, vida.

Augusto assume a gestão em 2002 e lança a marca em 2012, acrónimo das quintas da Cerejeira e Linhar.

Caves Vinícolas Martinho Alves: EP7 – Tondela Brancos

É uma das maiores vinícolas da região, não tem produção própria, compra vinhos aos agricultores e tem capacidade de vinificação para oito milhões de litros.

Herdeira da extinta Adega Cooperativa de Tondela, as Caves Martinho Alves prosseguem engarrafamento e vendas, motor do negócio que tem ganho vários prémios.

Quinta dos Carvalhiços, S. Miguel do Outeiro

Um Santo Vinho, produzido nesta quinta, localizada em S. Miguel do Outeiro e onde os abundantes carvalhiços, um tipo de carvalho mais rasteiro, deram nome a casa agrícola com referência a 1595.

Quinta da Ramalhosa: EP6 – Tondela Brancos

São 12 hectares; 9 marcas e 40 mil garrafas, que valem €80 000 euros.

A Quinta da Ramalhosa é uma empresa que tem comandante no Micael Baptista, a quem coube resgatar as vinhas da família. É a terceira geração, no início o avô Adriano Batista que plantou as primeiras cepas, depois o pai, Paulo Batista. Tudo numa das sub-regiões mais promissoras do Dão.

Quinta das Queimas, Canas de Santa Maria

Chega-se mal as vinhas assomam à beira da estrada. De Norte, pela A25 e IP-3. De Sul, pelo IP-3. Num e noutro caso, dá sempre para aproveitar a viagem e percorrer uns troços da Estrada Nacional 2.

O destino é Santa Ovaia de Cima, em Canas de Santa Maria. À nossa espera Cristina Videira Lopes, entusiasmada com o negócio do vinho.

A Bela Vista, que toma nome de avenida, são caminhos estreitos, alcatrão adornado por bonitos muros de granito. Oliveiras e pinheiros, mais as vinhas, estão por todo o lado.

Bulltrade: EP5 – Tondela Brancos

Chego à Lageosa do Dão para me encontrar com Jaime Murça. No aperto da mão, contrato firmado nas vésperas, para uma extraordinária aventura pelos patamares, que descem ao rio pequeno. Já foi uma grande empresa, permanece a capacidade instalada e as vinhas. Murça conduz, eu pergunto, vejo e aprendo. Sim, há muita conversa. Mas do fim da rua às cepas, vai grande distância.

A Bulltrade também já pensa em azeites, enquanto estuda a terra e não há videiras sem oliveiras.

Casa de Mouraz, Mouraz

A quinta aglutina várias parcelas de vinha, diferentes solos e altitudes. Protegidas pelos carvalhos e castanheiros, fecundadas com a água de pequenos ribeiros e temperada com o granito, algumas vinhas já chegam aos 400 metros de altitude.

Mouraz é lugar de esperança, uvas e bonança. Aqui as vinhas são cuidadas de forma holística e ecológica há várias gerações.

Quinta das Camélias: EP4 – Tondela Brancos

A chuva mantém-se persistente, e o carro, afoito lá segue o percurso. Saí do IP-3, apanhei a turística Nacional 2, e cheguei a Sabugosa. À minha espera a quinta de Jaime Barros.

Daqui saem 90 mil garrafas, e chegam 400.000 euros de faturação. Os brancos que nos deliciam e chamam novos públicos.

Subir ao outeiro onde está a Quinta das Camélias é contemplar panorama e proscénio do Dão.

Caves Vinícolas Martinho Alves, Tondela

Herdeira da extinta Adega Cooperativa de Tondela, as Caves Martinho Alves têm um novo acionista e uma capacidade de vinificação de 8 milhões de litros.

A compra de uvas aos lavradores, engarrafamento e vendas são o motor do negócio que tem ganho vários prémios, com destaque para o Clube de Escanções, e, em prova cega, a Caixa de Crédito Agrícola.  

É também aqui que se criou, numa parceria com a Junta de Freguesia de Parada de Gonta, um vinho que evoca a memória de Thomaz Ribeiro, com o poema Flores d’Aldeia.

Quintas de Sirlyn: EP3 – Tondela Brancos

Saímos da Nacional 2 e embrenhamo-nos na paisagem, destino Canas de Santa Maria. À espera 5 hectares de cepas, 3 marcas, 10 mil garrafas, 40 000 euros de faturação. O dia é de chuva, muita, a custo, o para-brisas deixa-me ver altas árvores, teixos e carvalhos, e eis-me na longa e bela calçada, ligeiramente a subir, até à casa. No outeiro, a marca, nos flancos a casa de família e a adega.

Quinta da Ramalhosa, Mouraz

A Quinta da Ramalhosa é uma empresa que tem comandante no Micael Baptista, a quem coube resgatar as vinhas da família. É a terceira geração, no início o avô Adriano Batista que plantou as primeiras cepas, depois o pai, Paulo Batista.

Outros tempos, em que as uvas produziam vinho para consumo da casa e venda a granel.

O negócio mudou, os mais novos não esquecem o saber dos antigos, mas enxertou-se na Ramalhosa, um caminho empresarial e ainda bem.  

Quinta das Queimas: EP2 – Tondela Brancos

Seis hectares de vinha, 15 mil garrafas e 60 000 euros de faturação. Tudo ali, onde as vinhas assomam à beira da estrada. De Norte, pela A25 e IP-3, que também sobe de Sul. Num e noutro caso, dá para aproveitar a viagem e percorrer uns troços da Estrada Nacional 2.

Bulltrade, Lageosa do Dão

A Bulltrade trabalha com vinhos a granel, produção e comercialização de vinhos da Região Demarcada do Dão, vinhos regionais e de mesa.

Possui produção própria e também compra uvas aos produtores locais e exporta para o mercado europeu.

Nas instalações, na Lageosa, há um, confortável, wine bar e extraordinária vista sobre o vale.

Quinta da Ramalhosa: EP6 – Tondela Brancos

São 12 hectares; 9 marcas e 40 mil garrafas, que valem €80 000 euros.

A Quinta da Ramalhosa é uma empresa que tem comandante no Micael Baptista, a quem coube resgatar as vinhas da família. É a terceira geração, no início o avô Adriano Batista que plantou as primeiras cepas, depois o pai, Paulo Batista. Tudo numa das sub-regiões mais promissoras do Dão.

Vintage, uma Maison na Miguel Bombarda

Cheguei lá, como de costume, intrometido e inopinado. Terá sido o amor, essa ciência estranha que me leva aos locais mais secretos e deslumbrantes, ou o estouvado da viagem.

Seja, a Maison fica ali no número 76, da Miguel Bombarda, em Viseu. Bons, e tradicionais hambúrgueres, francesinhas, bifes e saladas.

Ouvidos na estrada: EP1 – Tondela Brancos

Iniciamos hoje uma viagem pelo concelho de Tondela, onde o primeiro fim-de-semana de julho, de 4 a 6, decorre o Tondela Brancos.

Uma série de 13 episódios numa jornada pelas Terras de Besteiros, na demanda desses brancos, em dozes viagens pelos vinhedos, neste formidável Dão, em tom único de sons, cores e sabores.

O distribuidor de histórias

Têm sido dias de passos curtos e muitos. Bastantes no andaço e nas aflições. A ‘Operação América’, como lhe chamamos aqui no Armazém do Dão, enfileira-se, o Tiago e o David cuidam do algoritmo e até a Maria se juntou nestes estranhos dias, da pressa e das aflições, para gerir o tráfego.

Cortiça!

Coleciono rolhas. Não todas, apenas as que me significam algo. Como o Chateaux de 1966 que bebi, regalado. Ou a do espumante quando a Anita fez 34 anos, ou a dos vinhos na profissão de Fé, o último almoço que tive com meu pai.

E assim, recebo a notícia com alegria. O Daniel enviou-me imagem das rolhas dos vinhos das Cepas do Salgueiral. É um bem preciso, a cortiça. E dá charme ao vinho.

Dezesseis anos depois, as botelhas chegam a 9 de maio

Mal assomei às pedras do granito, topei a comandita, perdão, o conclave – assim me corrigiu estimada camarada de profissão, e acheguei-me. A memória, relha e velha, não os conheceu a todos, com destaque para o Frazão, que me levou de Terrano II a ver as vinhas e o rio pequeno. O grande também. Esquecida a Bull Trade estavam o Nuno da Ladeira da Santa, o Zé Carlos dos Penassais, o Carlos Silva meu confrade e amigo da Udaca e Amora Brava.

Carolos

Comi os primeiros nas Terras do Demo, mas, honra seja feita ao Peregrino, cada roca seu fuso, e em Tondela a confraria tem feito um belo trabalho com o milho, espalhado pelas eiras do concelho, além de contribuir para dirimir confusão de gastrónomo. Os Carolos usam a farinha de milho mais grossa, as Papas querem-na fina.

Numa das edições da Ficton, de família pelo braço, chaguei-lhe nos Carolos em vinha d’alhos, a carne, a que acrescentam morcela de sangue, couve ou, em havendo, nabiças.

Prado Tinto 2022

Infiltrei-me numa agência de programação e, num dos interlúdios do briefing, já tinham incendiado as hostes com uma Aldeia Velha. À meia-hora, como dizia meu pai e meu avô se sentava religiosamente na mesa grande do Pevidém, verteram-na no cálice. Um instigador de destilaria, com falange no Bushmils.

Dois provocadores a bem saber. Ou de bom sabor. O Tiago prometeu contar e eu, que por recomendação viária estou limitado ao vinho, afifei-lhe o saca-rolhas e deixei-o espreguiçar-se. 

Vinho. Velho.

1992 foi um ano bom. Chegou ainda eu trabalhava na dobra do ano, era uma tradição de puto imberbe, trouxe um mês de reclusão em Vila Franca de Xira e um Agosto de tasqueiro em que tudo era medido a xicaras que se escorriam no final do alvoroço que era preciso pagar ao Zambujo quando não a cantina não fiava e o Roque não nos doseava os cigarros.

Ganhei uma fita no boné e fiz-me ao mar quando os cachos começavam a ser vindimados.

Duas iscas e um copo

Uma cortesia. As gentes da Beira são honestas, honradas e trabalhadores. Os lavradores mais ainda. Foi assim que a um pedido de uma caixa, de várias referências, eu recebi um Encruzado e um Rosé. Seguirá a caixa para o meu amigo consultor, as cortesias também ficaram com engenheiro agricultor. Tranquilo, somos do Dão, “pois então”.

E porquê das prebendas? Temos compliance – que não é arte de adorno, e obriga a  não aceitar vinho. Do Dão.

Chambaril

O chambaril, vocábulo que é toda uma orquestra, é singela haste de pau segura, pelos jarretes, o porco que vai à desmancha. E do porco tudo se aproveita. Cabeça e rins também. E o rim, o último que comi foi em Alpalhão, enrolado em ovos é divinal. Encontre-os, corte em cubinhos, bata uns ovos, fogo brando e azeite e temos petiscaria.

A Matança do Porco é uma tradição secular, um ritual, uma festa, uma comezaina. Uma instituição.

Vem aí o carrossel, o formidável alavão 

Encontrei-o vai para dez anos. Eu a subir a montanha, ele a meia encosta, com o rebanho a mastigar viçosa relva e chuva, chuva como Deus a dava e, mais acima, neve.

Toda a serra da Estrela era verde, água, nove e trabalho. O Alavão, período em que se produzem mais e melhores queijos, tem casa na montanha. Ele, o pastor, bem mo contou e jamais o esqueci.

Farrusquinha, By Oliveira do Conde 

Há um pátio, a que se chega cruzando a taberna, ao lado da mercearia e onde se esconde uma formidável mesa. Por ali passam comboios, autoestradas, rodovias e ferrovias, mas o mais fabuloso é o rio que corre aos pés da Albergaria. Um apeadeiro feito cais do encontro, por onde deambulam amizades e conversas, crescem préstimos e boas vontades. 

O Dão 

Palácios, torres e igrejas…Vozes claras do viver da gente. Um naco de Portugal…Uma bênção do céu. Águas abundantes que jorram por verdes campos, onde homens levantaram monumentos sem conto…Livros abertos para folhear a história…Um bater de coração que vem de longe, desde que Décimo, Petreio e Cássio foram escorraçados pelos pastores que aqui abriram os caboucos da Pátria…