Os Vinhos


Chão da Quinta Branco Field Blend 2022 – a arte de beber a única!

Refractário que sou, reclamo alegoria para botelha em unidade singular.

Antes do mais, o importante. Sou um indefectíivel de São Francisco – Desculpem o desabafo, mas o Dão tem de vos merecer melhor na mesa, que na restauração, upa upa, de três em pipa, fresco, lá iremos, em bom copo, arejado e conversa. E já bebi um, deste produtor, uma Touriga, monocasta e, nem a propósito ainda hoje telefonou, faça a bondade e abra lá isso às sextas senhor Adelino que restaurante aberto fecha à segunda! Ora isto, escrevo em seca hora por causa do malandro do comprimido mágico

J. Cabral de Almeida Tinto Musgo 2022

Topei-o no supermercado, mas nessa manhã que buscava vinho para o almoço, trouxe um branco com ele. Adoro o rótulo, o relevo do rótulo e a sobriedade do conjunto. Eis um vinho tinto completo, sóbrio e pujante. Minha Mulher diz que este já passou na mesa, mas é a circunstância que dita a compra. Eu creio que não, porém, encontrei-lhe algo de novo.

Quinta dos Monteirinhos Avô António Encruzado 2022

O ‘Especial’ era, e sempre será, uma lenda, ali, no balcão corrido do ‘Lampião’, mesmo junto às instalações da extinta Empresa de Auto Viação e Turismo, defronte do Avenida, onde nós, os putos, podíamos conversar e aprender com os mais velhos e essa é chave para história completa. A memória das pessoas, e da terra, é, afinal, tudo o que conta. E que lugar mais poético para um vinho nascer do que Moimenta de Maceira Dão, no concelho de Mangualde, onde a vinha respira entre rio e serra.

Encostas de Penalva Branco 2023

É um Dão, isso, vem sussurrado pelo vento, desde a Adega de Penalva do Castelo, tenho que resolver os dilemas da consciência, primeiro à brisa de pinheiros, essa, que é, também, a alma deste Encostas de Penalva Branco 2023. Uma ode à simplicidade e à frescura, esse tempo sem pressas, os pequenos gestos, as nossas rotinas. Encontrei-o cedo, o dia estava fresco e farejei o ano. Este, de 2023, além de barato, bom, fresco e aromático, ganhou um ano nas bolandas do retalho. Melhor é impossível. Toque delicado, promessa de sol.

Cabriz Branco 2023

Numa destas tardes, ainda brilhava o sol, saí-me à rua, a catrapiscar a Anita e, como de hábito, vinho branco para a mesa, conversa e cigarros. Estava em Jugueiros, umas das mais cosmopolitas avenidas da cidade de Viseu. Sim, eu vagabundei muito por Jugueiros, mas hoje não é só a Avenida Madre Rita. A fila de bares, restaurantes e pontos de encontro tornam este poiso apetecível.

Ora no bar onde estive não havia vinho do Dão a copo.

Milénio Tinto 2020

Após um dia de consultas, toda a família no consultório do médico, atirei-me a namorar a Anita, passeando por Jugueiros – história que vos contarei um destes dias, resolvi-me ao rebusco, hábito que muito prezo. O rebusco é procurar, e encontrar, os vinhos certos nas pequenas mercearias e minimercados, onde se encontram preciosidades, a preços muito sensatos. Este Milénio Tinto 2020 é um vinho de entrada de gama, com um preço bastante atrativo.

Morgado de Silgueiros Encruzado 2024

Voltei-me a ele, que nem um polivalente em dieta mediterrânica. Uma salada de massas, mariscos, ovo, a que acrescentei bom azeite, vinagre de figo e umas pedras de sal. E dançou comigo toda a tarde, na leitura do jornal, nas notas da escrita e na simplicidade de um vinho que retém toda a alma de Silgueiros. Aliás, rememorou-me a belíssima estrada e não resisti a dar-lhe registo da lembrança.

Passarela Pedra do Gato Encruzado 2024

De uma vida, sempre apreciei vinhos velhos, mas, chegado agora às portas da velhice, deparo-me com mudanças no gosto e, mantendo a preferência pelo envelhecimento em garrafa, não deixo de topar o viço dos vinhos jovens, como é o caso deste, que desceu a montanha para a minha mesa.

O Passarela Pedra do Gato Encruzado 2024, que se provou simples e a quem se acrescentou uma côdea e um naco de salpicão, é um varietal e um excelente exemplo do que de melhor se faz no Dão. 

Quinta do Perdigão Encruzado 2024

Vai para três anos que voltei ao Norte familiar. Os “primos do Norte” ali tiram férias, trabalham e, um deles – curiosamente o mais novo embora ele diga o contrário, até trabalha na distribuição. Tempo para um vinho há sempre, o ano passado até para muitos mais, mas este ano calhou termos a mesa. E, até, num acidente dos que trazem sorte, se derramou um pouco na garrafa mais inclinada. Ora meu Primo trouxe-nos um Encruzado, é paixão de família.

Quinta da Perpita Amando Touriga Nacional 2023

A Touriga Nacional, casta rainha que se eleva nos socalcos graníticos do Dão, encontra no “Amando” da Quinta da Perpita a sua mais nobre expressão, uma ode líquida à paciência e ao ofício. Este vinho, cujo nome ecoa o patriarca Amando Ferreira de Almeida, não se faz por acaso, mas por um lento e consciente processo de revelação. A sua alma é forjada na vinha, mas a sua elegância final é cinzelada pelo tempo.

Quinta da Perpita Encruzado 2022

Bebi-o, pela primeira vez, numa manhã de calores estivais e garganta seca. Fino e delicado, sendo veros, não chegam para comentar um vinho, monocasta Encruzado, que transcende botânica para se afirmar como uma epifania enológica.

É uma uva que, na sua elegância silenciosa, captura a alma granítica da serra e a bruma mística dos rios. Longe da exuberância aromática de outras castas brancas, o Encruzado revela aromas e sabores de subtil complexidade, um desafio erudito para o palato e uma promessa de longevidade na garrafa.

Kelman Encruzado Barrel Fermented 2022

Um Retrato Poético! O Kelman Encruzado Barrel Fermented é intenso, com volume e um final persistente. Não estamos cá para outra serventia que não abotelhar o freguês com qualidade. Isso, contou-me o vinho, enquanto lhe aprofundava a alma.

O Kelman Encruzado Barrel Fermented 2022 é murmúrio, sussurro, o granito do Dão, essa arte e nobreza de vinhas rijas, capazes de tragar este calor implacável.

Pedra da Orca Rosé 2024

Um refresco, por favor, pedia eu, ao subir a Maximiano de Aragão para jantar no sítio do costume. Um vinho que me entrou, na refeição e narinas adentro. Sim, bem sei, uma segunda prova. Mas é bom vermos se as primeiras impressões, que nem sempre são as que contam, estavam certas.

O Pedra d´Orca Rosé 2024, com 12,5º resulta de um lote feito com uvas das castas, Touriga Nacional, Alfrocheiro e Jaen, pouco extraídas e que lhe dão esta cor salmão suave, com um intenso aroma a fruta vermelha, alguma cremosidade e, sobremodo, muito ligeiro do beber, com final persistente.

Maria João Grande Cuvée 2015

Abri-o, já noite alta e no final de uma semana e de fogos e partidas. E estava ali, ia na terceira garrafa do dia, nas memórias e lembranças, dos que me partiram e me fazem falta. Mesmo sabendo eu que sou a ovelha negra da família, não deixo de ser uma ovelha sequiosa. E ali estivemos, eu e o copo, contemplativos, talvez cinzento da alma, cansado do tanto que vivi, do muito que tenho para viver e das saudades. E, perdão pela presunção, creio que foi o solilóquio indicado para beber por todos aqueles que me deixaram, partidos para essa terra.

O Maria João Grande Cuvée 2015, na boca, não é um desafio, mas uma revelação.

Terras Madre de Água Encruzado 2022

Escolheu-se, para segundo vinho e apesar dos alertas da Anita, estava fresco, bom e poderoso. E, curioso, tinha vindo do Norte onde, ao almoço, o proprietário da casa me alertara, precisamente, para a bondade dos vinhos de altitude. De montanha. Enfim, precisamos definir um termo e altitude parece acertado. Este é um deles. De altitude, e atitude, que desceu a montanha.

Este vinho, de corpo etéreo e espírito robusto, sussurra ao olfato segredos de flores orvalhadas, a terra molhada que lhe confere a solidez da origem.

Quinta do Cerrado Branco Reserva 2022

Abri-o em dia de festa, meia manhã corrida, ananás e melão de terceiro, e pequeno, almoço e topei com boa nota no gargalo, tradução rebelde, família de vinhateiros. Orgulho, bem o podem.

Cor cítrica, por vezes com reflexos esverdeados, notas cítricas dominantes, nuances de tostados e especiarias doces provenientes do estágio em barrica. A Malvasia Fina trouxe-lhe um toque floral e delicado. Encorpado, com uma textura cremosa devido ao estágio em madeira. Final de boca persistente e agradável, com a complexidade das notas frutadas e da madeira.

Vinha Maria Reserva Branco 2023

Salmão e carne fumadas, massas e pães. De serviço uma botelha, a Vinha Maria 2023. A intendência aburguesou-se. Um vinho destes, me perdoem, não me merece mais lábios. Nem no nariz, o primeiro alerta. Como gritar o óbvio? Não gostei do vinho, nem dos caminhos de asfalto quente que com ele vieram. O caminho reclama formosura, sombras, penedia e vento. Nada disso veio com o Maria Reserva Branco 2023. Acidez, corpo e final de boca, tudo curto. E essa garantia do “Reserva”, um branco, frescura e longevidade

Morgado de Silgueiros Branco Encruzado 2024

Mais conservador do que quando bebi o de 2023. Maior untuosidade, ainda a arrebitar, floral e bem concentrado, de aromas e estrutura. Precisa de tempo, mas bebe-se no estival dos dias. Ao olhar o Dão Morgado de Silgueiros Branco Encruzado 2024 no copo, topo-lhe o amarelo citrino límpido e brilhante, a lembrar orvalho nas folhas da vinha e temos tido madrugadas dessas. Aroma cativante, fruta, uma subtileza da terra e essa eterna e feliz mineralidade que nos remete para as rochas que abraçam as cepas.

Carvalho Pires Encruzado 2024

Veio da Mercadona, pressuponho, dado que é vinho viajado, e certificado. Apareceu na varanda, já noite estrelada, conversas e cadeiras. E céu, um formidável céu de Verão, perante a Estrela e o Açor. Quando, dos meandros da logística doméstica nos surge, apessoado, fresco e solto.

Custou 4,90 euros, trouxe cor amarelo cítrica, luminosa, reflexos verdes a cintilar no copo, iluminado pelos novos leds da rua. Nariz fresco e complexo, notas iniciais de mineralidade, para desentorpecer, fruta branca e um suave respiro vegetal, boa frescura ao conjunto.

Julia Kemper Encruzado 2021

Na mesa, um charrasco, acompanhado de uma saborosa chouriça de carne, que o complementou e deu rasgo. Na mesa, um belo Encruzado de uma complexidade aromática sedutora. É um vinho com uma profundidade impressionante, um equilíbrio notável entre fruta, acidez e o ligeiro toque de madeira, que contribui para a sua complexidade e capacidade de evolução.

As notas primárias de frutas cítricas, misturam-se harmoniosamente com nuances de flor de laranjeira e um toque mineral.

Quinta dos Grilos Branco 2023

Retomo a bolonhesa, entremeada por uma impertinente quebra do fluxo e que me levou a tirar do frigorifico o Quinta dos Grilos Branco 2023, e não se surpreendam, com o levantamento do rancho. Como vos disse, reagia a um desafio e este é um exemplo entusiástico de como encontramos vinhos brancos do Dão, vinhos de grande equilíbrio e elegância. Este vinho, em particular, reflete a filosofia de um vinho autentico, ideal ao consumo jovem.

A Quinta dos Grilos pertence à Global Wines, um dos grandes do Dão, arte vitivinícola ao longo dos anos, mantendo tradições e técnicas modernas.

Quinta dos Grilos 2018

Soltou-se da garrafeira, em resposta a um anátema quem me foi atirado e, já sabeis, eu nestas coisas não sou de despachos, sou de atavios. E sete anos depois, o Quinta dos Grilos, parte do grupo Global Wines, mantém expressão do Dão, fruta e acessibilidade. Produzido a partir de castas como Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen, traz frutos maduros, boa reputação, melhor sabor e um envelhecimento digno.

Em boca, não perdeu estrutura, lá está, encorpado, cremoso e com taninos suaves, mas presentes, apesar do tempo.

Quinta das Maias Rosé 2021

Este é um brinde à resiliência no Dão. Um vinho vindo das terras altas, onde o granito encontra os pinhais e o ar puro da serra. É que se dá esse abraço às vinhas. A Quinta das Maias tece a sua história com a paciência e a dedicação de quem entende a linguagem da terra. Não se trata apenas de produzir vinho, mas de capturar a essência de um lugar, de um clima e de um trabalho que se estende por gerações.

A Casa Anadia, proprietária da Quinta das Maias desde 1990, tem sido a guardiã desta tradição, preservando o legado de uma viticultura biodinâmica, onde a intervenção humana é mínima e o respeito pela natureza é primordial.

Quinta da Fata Tinto 2021

Um Dão Clássico e expressivo, este. O Quinta da Fata Tinto 2021 mantém elegância, frescura e capacidade de envelhecimento. Este vinho, em particular, apresenta as características que se esperam de um tinto da Quinta da Fata, um produtor de renome na região.

Sim, conheci-o vai para mais de uma década e a ligação de Dom Eurico Amaral ao vinho e à região é digna. Um dos poucos príncipes que temos e que gere, com a família, a Quinta da Fata, reconhecida pela qualidade dos seus vinhos e pela sua tradição.

Adega da Corga Branco Reserva 2021

O Adega da Corga Branco Reserva 2021 é todo um vinho que reflete o potencial da região do Dão para produzir brancos de grande carácter, combinando frescura e complexidade. Este exemplar em particular mostra a dedicação do produtor em criar vinhos de qualidade superior.

E quem é o produtor? Ou o percussor? O ‘Velho Barbosa’, com quem tive intermináveis horas de conversa sobre vinho, que aprendi a apreciar e que teve o cuidado de enviar um dos netos para estudar enologia, o Rafael, que é com quem mais lido a par do Fausto, o faz tudo da vinícola.

Sirlyn Reserva Branco 2017

Explosivo, floral, mineral. E fresco, muito fresco. Fecundo também, 15º que a vindima foi boa e as cepas estão cuidadas. Reclama cuidados redobrados e atenções dedicadas. Este Branco traz com ele não só a sabedoria ancestral dos bons e velhos brancos de Tondela, e eu sou do tempo em que na Adega o primeiro rosé foi feito com ideia de escoar a excessiva produção de brancos.

Uma cuba, ou uma tonelada de preferirem, largada no tegão com outras três tinas de tinto.

Dão Barão de Nelas Encruzado Unoaked 2024

O Barão de Nelas Encruzado Unoaked é um vinho que merece destaque, especialmente por ser um exemplar “unoaked” da casta Encruzado, e revelar coragem. Quer dizer, não tenho uma ideia ainda definida e tenho de aprofundar mais o palato. Mas a ausência de madeira seduziu-me.

Mas aprecio o “Unoaked”, melhor o “unwooded”, que significa que o vinho não foi envelhecido em barricas de carvalho, numa escolha deliberada do produtor para realçar as características intrínsecas da uva e do terroir, sem influência dos aromas e sabores que a madeira adicionaria.

Cepas do Salgueira Malvasia Fina 2024 (IVV)

O produtor é novo, o selo é de vinho de mesa, pormenor que se espera resolvido em breve, a certificação acrescenta valor, status e empondera marca e Região. Mais-valia ao negócio, que eu conheci o vinho ainda na cuba, via as videiras e a honestidade e frescura deste Malvasia Fina, que nos chega da Lageosa do Dão. Sim, as coisas acabam sempre por mudar.

Quinta das Queimas Encruzado 2022

À sombra, sem fugir à vaga, de provas e calor, encontrei excelso anfitrião para me falar de vinhos, histórias e aldeias. Fresco e conversador, o João ensinou-me, aturou-me e matou-me a sede. Sim, o Encruzado, fresco, adocica conversas e aligeira estas dias corridos.

O Quinta das Queimas Encruzado 2022 perfila-se amarelo citrino, brilhante e convidativa.

Índio Rei Grande Reserva Encruzado 2019

O vinho, produzido pela Amora Brava, destaca-se pela abordagem moderna e expressiva. Apresenta uma cor citrina e brilhante, no nariz, revela uma paleta aromática convidativa, com notas florais, complementadas por um toque cítrico de lima e um frescor subtil, com ligeiro impacto da madeira, que surge bem harmonizada com a fruta.

Duque de Viseu Tinto 2022

Já vi engasganços, quando peço uma manga para um vinho tinto. Normalmente porque confundem temperatura de serviço com temperatura ambiente. Eu, em dias de estio, não fujo à “pancadinha” que meu pai me ensinou e, antes de o servir, deixo-o refinar-se no frio por dez minutos.

Dom Divino Branco 2022

O Dão Dom Divino Branco 2022 é uma marca de vinho que está no mercado há alguns anos, fresco descontraído e descomplexado, sem perder garbo ou elegância.

Vasco da Gama Tinto Reserva 2018

Cheguei-lhe a meio da manhã, para reforçar um almo vespertino e atalhar uma fome desvairada. Elegante e complexo, brilhou com o estágio em garrafa. De cor granada intensa, no nariz revela uma grande riqueza aromática, com notas de frutos vermelhos maduros, e um toque do estágio em madeira.

Kelman Palhete 2022

Palhete, nome feliz para um refresco. A lembrar o tinto de verano, castelhanices, que este Palhete é um vinho refrescante, bebido fresco.

Ora este Palhete é precisamente o refrigério que o tempo quente pede. Entrou de conversa, esplanada e cigarro, puxou à mesa, ainda se lá aguentou nas meias torradas com geleia picante. E, iria em frente, sem pejo, não fora a minha mania de não repetir vinhos e requerer potentado quando rilho.

Ribeiro Santo Encruzado 2024

São precisas três deslocações a bares, para encontrar um que tenha de serviço vinho do Dão ou que, não o tendo ao serviço, o sugira. Lá irei, agora que os bares estão a esvaziar as adegas da região Sul. Mas consegui, encontrei o Quinta do Ribeiro Santo Encruzado 2024, notável exemplar da casta Encruzado na região do Dão, refletindo a expertise do produtor e as particularidades da vindima de 2024. Um vinho promissor, havendo sensatez para esconder algumas botelhas.

Maria João Branco Reserva 2020

São duas, cadeiras de realizador, ora viradas à Estrela, ora assestadas ao verde do parque daqui do bairro. E numa destas vespertinas, apeteceu-nos algo apaixonante, sensual, sedutor. Escolhemos do frigorifico e, logo após o arejamento nos assaltaram solidez, o robusto do branco, 13,5º a pedir galanteria à madeira.

Grão Vasco Tinto 2023

Foi assim, numa manhã de nevoeiro e chegado a casa que me deu a fome. Por entre queijo e pão, um resto de branco que havia no refrigerador, resolvi acender a grelha e, logo ali, três gordas e suculentas salsichas crioulas anunciaram festim.

E de beber? Olhando à, fraca, safra da garrafeira, ria-se para mim um Grão Vasco, agora que lhes passaram as maluqueiras das viagens, tinto. Bom, repasto robusto para horas matinais, mas nem vinho, nem conduto, se deram mal. 

Titular Colheira Branco 2024

Solta o fuzil ao alto, ação e reação. Já lá vou, antes o vinho e a razão por que se provam e reprovam vinhos. Este é bom, mas traz uma cortiça desencachada do currículo. Para ver da coerência, é disso que nos refresca a memória. E se a cápsula é dura de retirar, é porque esconde segredo.

A economia de escala tem disto, o consumidor não gosta e os financeiros têm de pensar se compreendem o negócio e a identidade das regiões demarcadas.

Tazem Rosé 2023

Cheguei em cima da hora, já a mesa ia bem aviada, quando o senhor Embaixador dos Vinhos de Tazém trouxe este à prova. Bom rasgo, ousadia e merecimento para tarde de cavaqueira entre enófilos.

O Dão Tazem Rosé 2023, produzido pela Adega Cooperativa de Vila Nova de Tazem, é um vinho que expressa com autenticidade o carácter da sub-região da Serra da Estrela, e é para aqui, mas não só, que a minha bússola anda virada. Veemente e intrépido, cor rosa-pálido, límpida e brilhante, visualmente apelativa e elegante. E no beber, já lá iremos, também.

Adega de Penalva Tinta Roriz 2020

O Adega de Penalva Tinta Roriz 2020 é um vinho tinto monovarietal que expressa com autenticidade o carácter robusto e elegante da casta Tinta Roriz, ou Aragonês e, do lado de lá da Ibéria, Tempranillo. O que resulta de um vinho de cor encarnado carregado, reflexos violáceos que denunciam juventude e concentração.

Casa da Passarella A Descoberta Colheita Branco 2024

O Casa da Passarella A Descoberta Branco 2024 é um vinho chegado das montanhas, autenticidade nesse lote que combina tradição, frescura e elegância. Produzido a partir de castas autóctones como Encruzado, Malvasia Fina e Gouveio, em avançado resgate, este branco revela uma expressão aromática refinada, flores brancas, e, no que me apraz, subtil toque mineral.

Grande Rota Touriga Nacional Rose 2023

Eis uma outra forma que a enologia encontrou para brindar a Touriga Nacional e dela extrair um varietal, propício a tardes de calor, com uns preguiçosos 12º e é também essa a temperatura que reclama o copo, largo de preferência.

Duque de Viseu Branco 2021

Estouvada, palavra que nos trouxe a alegria matinal e a energia, ao trabalho. Madrugada adentro, atravessava solitário a floresta de Bertelhe, na demanda de um computador. Caminho já marcado, descer a Nacional 2 e paragem para bifana. Das boas, e cerveja que o vinho era comum e expatriado. Eu não resisto à pedagogia, os bag in box no Dão estão aí, mais baratos e mais rentavéis para quem os vende. E com identidade, o que faz todo o sentido para um café na borda da Nacional 2.

Pedra D’Orca Rosé 2022

Estava prometido o encontro, há vários dias, mas entre fechos e escritaria de reportagens, vinhos, quotidianos, o tempo escasseia, de modo que no ontem, regressado de mais uma reunião de trabalho em dia de sol, peguei no telefone e fui-me à base, poiso secreto que haverão de ver, ao vivo e a cores, nos próximos três dias, aqui mesmo. O Tiago Proença está a afinar o algoritmo e cá chegará. Adiante.

Sequioso, salta-me o Pedra D’Orca Rosé 2022, a frescura do Dão em botelha. Bem-apessoado, estiloso, regou conversa de velhos amigos que há muito não se cruzavam nas calles do burgo..

Álvaro de Castro Branco 2022

Bebei-o, quase, sozinho e tive castigo. Apesar de, temendo uma rebelião familiar, tenha deixado um quartilho para a provadora “clandestina” deste Armazém do Dão e com quem discuto muito sobre vinhos.

Quinta do Paul Rosé 2023

Eis um ilustre, mas belíssimo, desconhecido que o nariz da Anita, captou, ou pela beleza da cor, talvez a estética da garrafa. Certo é que o vinho tem perfil moderno, um Dão muito gastronómico, equilibrado e acessível, a 9,10 euros a garrafa, temos aqui perfeita relação qualidade e preço.

Tazem Encruzado 2022

Um velho conhecido, bebido em conversa, no meio da rua Silva Gaio, varietal de uma das castas brancas mais nobres e emblemáticas do Dão, conhecida por produzir vinhos estruturados, aromáticos e com bom potencial de envelhecimento.

Fonte do Ouro Branco 2023

O Fonte do Ouro Branco 2023, da região do Dão, é um vinho branco produzido pela Boas Quintas, em Mortágua, desenhado pelo enólogo Nuno Cancela de Abreu. O que importa. Nuno Cancela de Abreu quando chegou ao Dão, tenho para mim que nunca de cá saiu embora lhe reconheça o profícuo currículo, veio para criar vinhos com identidade regional, frescura natural e elegância contida. Aliás, é dele um dos brancos Dão Nobre, a classificação mais alta da Câmara de Provadores do Dão.

Evidência 2022

Encruzado, Malvasia e Bical, lote fecundo, 13º de poder e excelente entrada para saciar sede. Sede infinita, um toque floral, fresco e elegante. O Evidência Branco 2022 é um vinho da região do Dão, produzido pela Parras Wines, que reflete um lote tradicional, com fermentação em cubas de inox, preservando os aromas frutados das uvas, e já lá vamos.

Casa Américo Encruzado 2019

Descobri a marca vai para anos e adoro-lhe, entre muitos outros atributos, a chancela “Family Estate”, o património familiar, de famílias de vinhateiros, gerações que estão no negócio do vinho.

Julia Kemper Branco 2022

Estava num daqueles dias do avesso, também ia – mas em ‘Roma sê romano’, e de fome esquisita. Raros os dias que passo em família, completamente desligado, aproveitei o Sábado para mastigar vinho. Corri as calçadas e desci as escadas. Pousei os butes no Mais 55 – bem sei, mas está aqui a fatura para demonstrar que neste Armazém do Dão os secos e molhados são livros de guarda, e sequioso, venha vinho que da comedoria a Anita já escolhe.

Dona Sancha Vinha da Avarenta Tinto 2021

Este é um vinho que eu tenho vindo a adiar a prova e a compra. Manias de velho, conheço o produtor e muito tem feito em prol do Dão. Também conheço o proprietário do bar, e também muito faz pelo Dão. Para sorte da prova, calhou ser o único vinho de serviço do Dão. É preciso mais variedade, rabujo eu, e é essa conversa que um dia o Dão terá que ter. Mundividência no serviço e na distribuição. Em nome de todos. Digo isto com o à-vontade de quem se sente livre para falar e respeita, e preza, muito estes dois empresários. Dito isto, a Anita já provou o rosé e eu já lhe tomei aroma, o final de tarde pedia-me um Tinto. Este obstinado ruvinhoso, e a delícia das palavras, bebeu-o.

Caminhos Cruzados Titular Rosé 2023

Foi um vinho para homem só. Deixado em casa, no tabelião a bater teclas, desabrido por não conseguir calibrar os tintos, a senhora do nariz bonito, e atento, é que cuida disso, fui-me a ele numa pausa das escrituras. No fresco, é como vos digo, cá em casa os tintos seguem à garrafeira, abri-o em tarde solarenga. Gosto da garrafa e de lhe ver a cor, um pêssego, maduro e pronto a comer. Soltou-se, boa acidez, jovem e com boa estrutura, sim também os guardo, e aromas de boa, fruta vermelha.

Casa de Santar Vinha dos Amores Touriga Nacional 2018

Intenso, macio e complexo. Assim, nariz posto ao ar e no copo, cigarro na mão e eu a apreciar o Dão, num intervalar de refeição.

A Vinha dos Amores é uma das extraordinária paisagens do Dão, cada vez que desço e subo a Nacional 232 paro sempre para fotografar, dizem os mais velhos que se chama assim pelos namoricos, eu, porém, apaixonado pela Anita, toco-lhe pelo coração. Cor grená intenso, fruta vermelha bem madura, de boa estrutura.

Produzido com esmagamento com desengace total, maceração pelicular prolongada e suave, fermentação alcoólica; depois 18 meses em barricas de Carvalho Francês e 6 meses em garrafa.

Adega da Vila Branco 2019

Aprecio imenso Vila Nova de Tazem, onde a Demarcação do Dão também principiou, pelas ruas, os largos, os muros e as videiras a espreitarem. Bem sei, há lá um Museu da Rádio e bom de conversa, uma espantosa praceta e a franqueza das gentes. Vila de resistentes, desempenhou um papel notável durante as Invasões Francesas. Foi com estas memórias que voltei, creio que já aqui o tinha esmiuçado, mas o compliance impõe-me as regras e voltei a ele, e encontrei-o cremoso, perfumado, vivo, fresco e solto..

Suave ao palato, é feito de várias castas em vinhas velhas, a provar a vetustez da terra e dos lavradores, ao tempo em que a vinha eram as cepas, ninguém procurava saber. A vinificação é natural, com estágio prolongado em garrafa. Eis a mais-valia, o tempo.

Outono de Santar Colheita Tardia 2018

Conheci-o, creio, em 2014, pela mão do Osvaldo Amado, já não sei se no Paço ou em Cabriz. Fresco é a primeira nota que se exige, quando chega à mesa. Complexo com frescura distinta, untuoso e bem equilibrado. Final longo e persistente. De sobremesa, pois, mas também entradeiro para quem é atrevido.

Foi o Osvaldo, amigo da família e grande senhor dos vinhos, que me explicou este deixar para depois a colheita. E assim, mal o Verão se abala, a podridão nobre assenta nas uvas perfeitamente maduras nos vinhedos. A Casa de Santar escolhe a tradicional monocasta Encruzado para a vindima tardia.

Pretexto Branco 2022

Começo a apreciar os vinhos da montanha, de altitude, enfim a designação é a que cada um entende, perdemos com isso, mas o que importa, verdadeiramente, é a qualidade do que se bebe. E, tal como a montanha, que vejo deste escritório, que aprecio e onde passo mais de metade da minha inexistência. Sobremodo desde que a Anita me colocou aqui um sofá, prazenteiro e de quem aguardo a chegada para partilhar um bom vinho.

Foi assim, no final de frugal almoço, com pão plástico e presunto de 18 meses de cura, que lhe acrescentei Pretexto para o provar. Aroma delicado, cítrico, mineralidade quanto baste e uma ligeira untuosidade, que me fez brilhar os olhos.

Picos do Couto Chardonnay 2022 (IVV)

Isto não é um Dão. Mas tem uvas colhidas na geografia do Dão. Porque não é um Dão? Ora porque a casta não é autorizada e, como tal, a Câmara dos Provadores, da Comissão Vitivinícola, não lhe dá certificação. Assim sendo só lhe resta obter o registo do Instituto da Vinha e do Vinho. Porém, há que ter cuidados, quando pedimos fatura a referência é de que se trata de um Dão.

Bem sei, há no Dão muitos produtores só com o selo IVV, ouço criticas daqui e d’alem, mas esteve bem a Câmara dos Provadores, creio até que se trate de um vinho para exportar, ou, então, uma “francecise”.

Quinta dos Carvalhiços Reserva Touriga Nacional 2021

Transcendente, sublime e deveras extraordinário, por lá, atiro eu, devido ao estágio de nove meses em barricas de carvalho francês usado.

Com poderoso aroma, há ali fruta, da boa, fresco, encorpado de estrutura e uma leveza no beber, taninos suaves. Este Quinta dos Carvalhiços Reserva Touriga Nacional 2021

É um prodígio e uma bofetada nas minhas fuças, que fui deslargando a Touriga Nacional, zangado com a propagação de uma casta nobre, que precisa de amor, terra conhecida e tempo. E passadas três vindimas, e quatro anos, marcha-se bem ao copo, largo, no meu caso um Orpea, para bem beber e melhor uso do nariz.

Casa de Santar Tinto 2022

A Sociedade Agrícola Casa de Santar produz um dos vinhos mais antigos do Dão e tem nesta uma marca icónica, porque soube preservar a imagem clássica, até austera. O vinho merece-a. Escolha sólida em qualquer carta, um vermelho intenso, boa fruta, estrutura bem ancorada, de taninos suaves, fruta, complexo, bem estruturado, elegante, harmonioso, de taninos bastante finos. Bem ataviado, é gentil e sofisticado, sem deixar de ser o que é. Um Dão de Santar.

A Casa de Santar foi fundada no final do século XVIII, adega histórica, horizontes largos de vinha, em Santar, vila da qual não sabemos, e não queremos para tristeza minha, aproveitar todo o legado.

Maria João Reserva Tinto 2017

Frutado, macio, equilibrado e boa persistência. Chegou a casa em caixa bonita, com destinatária conhecida e está no ponto certo do beber. Tragámo-lo, em modo parceria dual, com meio queijo da Serra e há ali fruta madura, cuidada pelo tempo. Um vinho tranquilo, elegante, acidez perfeita e macio de boca. Um belo exemplar do Dão.

O lote tem metade de Tinta Roriz, 30% de Touriga Nacional e 20% Jaen, acrescido de estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. Vibrante, preciso, taninos firmes e uma fresca acidez que o atiram aos 13,5 e que, apesar desta robustez, simplificou a merenda em dia bem bebido. Fluído e profundo, final persistente, a pedir tabaco e mais copo.

Quinta de Saes Reserva Branco 2022

Foi a quarta garrafa, e marca, a chegar à mesa e fechou, para surpresa minha, de forma subtil, um almoço de brancos, que teve na lambarice um genuíno cabrito que eu não vou em modas. A Estrutura está lá, mas é a leveza que causa o sobressalto. Um espanto mal abri as goelas e, depois do nariz e um longo golo, percebi. O que é perfeito, não se anuncia. Bebe-se.

A.C.; como agora indicam as cartas da restauração, é um Príncipe dos vinhos. Não o conheço, pessoalmente, mas desde que lhe bebi um Saes Rosado, fiquei fã. E a Pellada é outro refrigério. Mas fiquemos nas montanhas do Dão e neste Quinta de Saes Reserva Branco 2022, produzido por Álvaro Castro, que além de engenheiro e bom gosto sabe, de há muitos anos, criar vinhos com arte.

Encruzado Pingo Doce 2024 (Global Wines)

É o segundo Encruzado de 2024 que bebo e continuo espantado pelo preço. Mas que não haja dúvidas, é um vinho bom, adequado a esta Primavera que aqui e ali vai aparecendo, varietal, com a mais nobre casta branca do Dão.

Uma boa uva, que beneficia da altitude e dos solos graníticos, acresce que é uma casta amiga do lavrador, que soltou um vinho cor limão esverdeada, boa acidez, já de boa estrutura, apesar dos seus 12,5º e muito mineral. O final é persistente, resultado de estágio, curto, em madeira.

Quinta dos Carvalhiços Reserva Branco 2022

Chegou e mostrou-se de cor cristalina, citrina, bem calibrado de estrutura e acidez, fruta madura, muito fresco e mineral. Resultado de um lote, ou blend se preferirem, de Encruzado e Malvasia Fina, receita de sucesso, se as uvas forem de qualidade. E são-no, porque na prova, é daqueles vinhos irrequietos e sôfregos.

Encruzado e Malvasia Fina, tratadas as cepas em modo de proteção integrada, com fermentação alcoólica em inox, a baixas temperaturas. Cresce aos 13º, vinho para gulosos, ligeiramente doce, com boa marca de boca e longo final. Pede entretinhas, queijos ou mesmo uma carne na grelha, que é avantajado no corpo e reclama sapatas firmes.

Maria João Pé Franco 2017

Pomada. Eis um termo raro, de precioso, que nos escapou no adjetivar do Gola Alta ao Chefe. E Grande Pomada é distintivo de alfinetar lapela. Distintivo e diapositivo. Significa um palato, ou as goelas se preferirem, que sabe apreciar de forma enxuta os vinhos. Treinado na farmacologia, saber prático, código que se transmite. E este chegou com essa cifra, telegrafada largas horas depois.

“Estou a acabá-lo. Não é com remédios. Grande pomada. Ontem já não estava em condições de achar nada. É muito bom!”.

Uma fluidez que está ali, no vinho, vivo, descarado, insolente. E, no entanto, já lá vão sete vindimas por cima, oito anos do tempo comum; que está aqui, ainda bem não, arriba aí.

Adro da Sé Reserva Tinto 2021

Possante, encorpado, precisamos de tempo para o descortinar, taninos bem vincados, há ali elegância e requinte. Convém, deixá-lo respirar e utilizar copos largos, para apreciar este tinto, intenso, bem composto de estrutura e a envelhecer muito bem.

O Adro da Sé Reserva Tinto é um vinho de cor carregada, profundo no olfacto e no palato, boa fruta em resultado do lote, de final longo que nos pede meditação. Sim, a destrinça dos aromas, complexo e profundo, macio no palato, há ali autenticidade e madeira, um pouco menos não lhe retirava brilho.

Quinta da Ramalhosa Encruzado 2022

Um Encruzado garboso, fresco, com corpo, alguma doçura e boa acidez, que junta com a mineralidade da casta nos dá este vinho intenso, que cresce a cada golo e onde a barrica de carvalho melhora os ganhos de untuosidade que não se intrometem no aroma e sabor. Uma sensata e inteligente utilização da madeira.

Citrino, de cor amarelo limão, o primeiro aroma mostra fruta e complexidade. Bebido com uma carne à portuguesa, em almoço de trabalho, os módicos 12º ajustaram-se. Mas, diz este velho patarata, o Encruzado precisa de mais maturação e mais grau para se aguentar uns anos, que é o que se espera dele.

Quinta dos Carvalhiços Colheita Tinto 2022

Eis um Dão à antiga, boa adstringência ou rudeza se a palavra não vos assustar, bons taninos, melhor fruta que se traduzem num final longo, inquietante, genuíno. Um vinho de lote, com Touriga Nacional, Jaen e Tinta Roriz. Não haja dúvida, a Touriga Nacional sobressai, o Jaen e Tinta Roriz aconchegam a fruta, acrescentam frescura, que o torna apelativo ao olfacto e bastante agradável ao palato.

Quinta do Sobral de Santar Colheita Branco 2023

Amarelo, com uns laivos esverdeados, traz com ele aromas frescos, mineralidade e boa acidez. Bebemo-lo, como sucede tantas vezes, de aperitivo antes de almoço domingueiro, naquele entretém de mesa composta, de paio, pão e torresmos.

Boa vibração, para um vinho com boa estrutura, um final eloquente que nos diz tudo do vinho. Sou suspeito, conheço a quinta, e os proprietários, há ali amor às cepas, aos vinhos e a Santar. A Quinta produz outros produtos, incluindo um delicioso chá preto com chocolate. Chá, a meio da tarde, com acrescento.

Foral Dom Henrique Reserva Encruzado 2024

Foi o primeiro vinho de 2024 que provei e retenho na retina o espanto da Anita, “isto é muito bom e a este preço!”. Persegui na grande cruzada. O Encruzado, que está em grande expansão, é, em bom rigor, um vinho de estalo.

Varietal, fresco e primaveril de aromas, produziram 27.000 garrafas com vinificação clássica, a bica aberta, uvas prensadas antes da fermentação, suavidade e bons aromas. Fermentou com a temperatura controlada, os brancos gostam do frio e estagiou em inox.

Quinta da Perpita Branco Encruzado 2022

A primeira vez que o bebi, já me esperava na vidraça, fresco e solto. Foi sentar e beber, cortesia do Idílio e que bem me soube. Voltei a ele esta semana, ao catrapiscar a Anita para uma tarde de serenidade, que se surpreendeu com a qualidade. E marcou visita ao produtor e caixa na adega.

Aroma mineral, o Encruzado está no ponto, boa estrutura, floral, boca cheia e final profundo. De aspeto límpido, complexo nos sabores, intenso, apesar dos, escassos, 12º, de cor amarela brilhante, há ali boa acidez, final curto, mas apropriado e persistência.

Casa da Passarela Fuga Colheita Branco 2023

Tenho infringido as normas, aqui há dias com um varietal Encruzado, que a minha teimosa obstinação recomenda sempre mais tempo e remanso. Desta feita, uma Fuga ali a 2023 para aferir se sou velho obstinado ou se, eu e o meu palato, rabujando, temos alguma razão.

Fuga Branco 2023, bebido de companhia, tarde ensolarada e termómetros a subir quase à vintena. Surpreso no beber e surpreso, também, por pensar o vinho em duas dimensões, o novo e o velho. Ou muito velho e esses são raros. Acabou a Fuga, mas foi valente o prolóquio. Frutado, suave citrino e muito fresco. 

Serrado Colheita Tinto 2019

Tenho de insistir, para eles subirem as escadas, contudo, aproximam-se e este, com uma nota. Quinta do Serrado, Sociedade Agrícola Castro Pena Alba. Castendo, portanto. Ora também neste microcosmos familiar, o padrão está a mudar, entram mais brancos que tintos.

Este Serrado Colheita Tinto 2019, lote tradicional, a quatro castas, importou 6,70 euros por um vinho de bom vermelho, fruta madura no travo, rústico, e um eloquente final. Diz-nos tudo.

Das quatro, a Touriga Nacional enche 30% do pipo, Tinta Roriz e Jaen a 25%; Alfrocheiro a 20%.

Naco Reserva Branco 2022

Voltei às altitudes para um renovar de palatos e sentidos desta qualidade diferenciadora, que merece detalhe, tendo já assinalada a Sub-região Serra da Estrela. O reforço ‘Vinhos de Altitude’ arranca ponderação, e copo, claro.

Uma cor amarelo-claro, frescura olfativa muito presente, mineral e de boa acidez, resultado das vinhas de altitude, e já lá volto. Vou só molhar o bico.

Fruta cítrica, suave, fresco, uma valsa entre as uvas e o solo, com música dada pela orquestra da montanha. Bom corpo e volume, 13º; uma finura e encanto que merecem esse detalha da Altitude. E da atitude.

Quinta dos Carvalhiços Colheita Branco 2022

Estaríamos, digo eu de memória, em 2017 quando a cortesia, gratidão assinalam eles, me fez chegar duas botelhas, branco de Quinta dos Carvalhiços. Em S. Miguel do Outeiro, deixado o IP-3 e avançando à serra, lá arribamos. Uma atalaia da ecologia, de vinhas cuidadas, muros robustos e tanto a fazer que, de si, se vai fazendo. São as sortes dos trabalhos felizes.

De lábios secos, atiro-me ao Quinta dos Carvalhiços Colheita Branco 2022. Tomo-lhe a cor citrina, viva, contumaz na fruta, rico em mineralidades e com uma acidez de se lhe tirar chapéu. E botar mais no copo.

Dão Maria João Coleção Privada Grande Cuvée 2022

Diz-nos o grande livro das palavras que Arcediago é dignitário eclesiástico que, per si, administra uma parte da diocese. Alegre e feliz coincidência a Quinta do Solar do Arcediago estar nas mãos de uma empresa com larga história nos vinhos. Um casal, amigo e assim me liberto da declaração de interesses, que tocam este projeto em conjunto a que se junta o enólogo Osvaldo Amado, provavelmente um dos mais capacitados a fazer espumante no Dão, que há ali chancela de origem. Maria João e Joaquim Coimbra, uma pequena equipa, grande na capacidade de girar um negócio de vinhos independente e com especial enlevo, que coloca amor e requinte em cada garrafa.

Às borbulhas. Bonita garrada, sofisticada para um espumante requintado, delicado de aroma, leve e complexo, a exigir memória, acidez muito bem integrada, na justa proporção das castas, Encruzado e Malvasia, plantadas na Quinta do Solar do Arcediago.

Carvalhão Torto Estrada da Corte Branco 2021

A Quinta do Carvalhão Torto mantém-se entre os muros de granito, as oliveiras e boas cepas que me trouxeram um vinho aromático, frutado, fresco e muito mineral, o que só confirma que os vinhos do Dão beneficiam do andar do calendário. Assim haja bolsos, no produtor. Eu bebo sempre da vindima anterior ao ano em que estou, no mínimo, mas já encontrei quem lhe pusesse duas vindimas em cima, antes de o verter ao copo.

O Carvalhão Torto Estrada da Corte Branco 2021, que pede 7,30 em loja, resulta de um lote com Encruzado, Malvasia Fina, Rabo de Ovelha e Bical. Vinificado com maceração pelicular pré-fermentativa e controlo de temperatura. Atira-se aos 12,5º, que a nova vaga de consumidores pede e tem no site da empresa informação completa. De tudo isto se ensina, educa e se garante a fidelidade do consumidor.

Quinta da Ramalhosa Tinto 2021

Provei-o, e bebi-o, no telheiro do produtor, na companhia de enóloga e do proprietário da Quinta, pessoas de empresas diferentes, mas a conversa do vinho é sempre soberba, e aprendo sempre com quem me explica o que bebo.

Aromático, fresco, temos de largar o nariz, encher a boca e dar de beber às bochechas para o tomarmos por completo e sim, pensado para um mercado mais cosmopolita, não deixa de ser um Dão que mostra todo o esplendor, com a vantagem dos 12º. Ou seja, bom de mesa farta.

Este Ramalhosa Field Blend Tinto 2021 é um vinho tinto excecional, de perfil único e, pouco, complexo. Podemos entreter o palato, deixar o final a tamborilar que ele está ali, bem firme. Em loja a garrafa atinge os 9,75 euros, por um vinho com um vermelho maduro, como a fruta, boa estrutura e um final harmonioso.

Terras de Santo António Rosé 2021

Cheguei a casa, depois de palmilhar mais de meia centena de quilómetros nos socalcos, “aqui dizemos patamares”, do Dão. Cansado, sequioso e conversadeiro, a Anita traz-me este rosé que me encantou, com 13º, singelo e de bom beber. Fresco. O sol também ajudou.

O Terras de Santo António DOC Rosé custa 5,79 euros, em loja, é criado com uvas das castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, a leve prensagem, de cor alegre, exuberante até, bebido a ver a cidade que corre, mostrou-se ligeiro, apesar dos 13º, com um final persistente.

A Quinta de Santo António está abrigada pelas montanhas, com solos graníticos que produzem vinhos, mesmo que para o quotidiano, de grande qualidade. Complexo, porém, de fácil destrinça, esteve à altura do final da tarde e do aperitivo antes do jantar.

Lagares do Cerrado Branco 2022

Chegou à mesa de cor citrina, nariz elegante e grande frescura. Eis um vinho que espelha bem o Dão, consensual e nada aborrecido porque tem nele castas tradicionais, de sabor elegante e equilibrado num vinho que descansa em garrafa, antes de chegar ao mercado. Muito perfumado no aroma, excelente final e uma grande tranquilidade.

A Quinta do Cerrado é propriedade da União Comercial da Beira, fundada em 1942, uma das empresas mais antigas da região do Dão, com marcas reconhecidas no mercado nacional e internacional.

Naco Rosado de Altitude 2023

Altitude. Foi esta menção frontal no rótulo que me assarapantou. Refresquei-o e bebi-o, não no observatório dos costumes, antes na tardoz, que me deu a companhia de fecundo sol. E o rosado. Explicar ao bebedor logo ao que vai, ainda antes da rolha saltar e de prévio esfriamento.

Touriga Nacional e Alfrocheiro, loteadas com saber, deram-me este Naco Rosado de Altitude 2023, já lá subimos, antes os 13º, que me obrigaram a surripiar um bocado ao Serra da Estrela Velho, 180 dias curados e descansados na tábua, consistência quebradiça e untuosa. Um quase alaranjado que partilhou cor com o vinho. Cor e palato, o picante do queijo a arrancar das entranhas do vinho taninos sofisticados, educados, saborosos.

Mariposa Florbela Tinto 2019

“Eu sou Aquela de quem tens saudade”. Gosto do A maiúsculo, ali no verso de Florbela Espanca. Apaziguador. Possante e, bem, encorpado. Chegou assim, já com este sol florido. Tinta Roriz, Jaen e Touriga Nacional mereceram o Sol desta Primavera, soltas em lote gotejado ao copo, um Zwiesel Glas, marca com quase dois séculos e que merece a honraria de servir este tinto, cinco vindimas depois e a que deitei mão cansado da programação, escrita e provas. Caramba, um homem também tem direito a olhar, de longe, a neve na Estrela. Não, diz o compliance. Seja.

Calhou em começo de tarde feliz, com ervilhas e ovos escalfados, cenouras, chouriço de colorau, nacos de bacon e começo de bom azeite e melhor cebola, brava, nos preparos.

Quinta de Sirlyn Reserva Branco 2019

Este foi um torna-viagem. Comecei a bebê-lo na casa do produtor, um sabedor engenheiro e uma previdente psicóloga, e acabei-o em casa. Mas, ao abrir-se, a porta dos meus anfitriões, chovia como quem a dava, os campos verdes e o aconchego em mesa-redonda e conversas de vinho. Quereis melhor?

Antes, chegar a Santa Ovaia de Cima, ver as vinhas para, depois e já na adega, atirar os lábios a este branco, citrino, ligeiramente adocicado, cinco vindimas em cima e ainda de boa acidez, resultado do lote que me diz o site do produtor resultou de Fernão Pires, Encruzado, Malvasia Fina, Bical, Cerceal Branco, Síria, Branda.

Torre de Ferro Rosé 2023

A modernidade tem destas coisas. Frescas. Uma ida, um supetão ao supermercado do bairro, olho fugaz aos vinhos nas prateleiras e nos frigoríficos, para já ter alguns frescos, mão lampeira traz este Torre de Ferro Rosé 2023, que chegou a tempo da homilia, na varanda virada à serra.

Num destes dias repetiu-se a gula e ele arribou em boa temperatura, disposto a torcer pelos torresmos do redanho, pasteis de bacalhau e umas, picantes, chamuças de carne, o triangulo a reclamar mais vinho. E acrescentou préstimo ao almoço. E se tem serventia e sabe bem, que se beba.

Adega de Mangualde (Mocho) Encruzado Reserva 2023

Entrei-lhe pela rua do Carmo, em dia de chuva, com estacionamento poisado no limite e corrigido para a decência. Lá dentro as luzes apelavam a uma espreitadela aos pipos. E não só o espreitei, como o bebi.

Servido a copo, é um clássico branco de bica aberta e fermentação com temperatura controlada. Criado pelo António Mendes, enólogo e tutor de boas cooperativas, mostra-se citrino, encorpado e já com uma generosa untuosidade

Borges Encruzado 2023

Gosto do nome. São Simão da Aguieira. E este, bebido ao supetão, trouxe boa fruta, untuoso, de boca fresca, largo e pródigo.

Tenho o hábito de me sentar para refeiçoar e, antes de tudo, um copo do vinho aberto, ou o que estiver de serviço, desde que seja Dão. Minha mulher penitencia-se, mas de ferro travado chego-lhe. E assim, refrescado das ânsias da goela, já analiso detalhes e escolhas. Bebi-o na rua Paulo Emílio, nesse dia de Encruzados, de que vos tenho falado.

Terras de Santo António Branco 2021

Fresco. Esta foi a primeira apreciação no nariz, quando eu e a Anita apanhamos as intermitências do sol e estendemos cadeiras na varanda virada à Estrela. Temos este hábito de celebrar o fim do dia com um copo de vinho e estas sucessivas tempestades obrigam a um entra e sai das velhas e madeiradas esteiras.

Claro, muito cítrico, jovem e bom mineral. O Terras de Santo António Branco 2021 é um vinho de lote, mas as catas não são plasmadas no contrarrótulo, tampouco no site do produtor.

Kelman Encruzado 2023

Aberta a garrafa, chega-nos um aroma fresco, mineral, estruturado, intenso e com vontade, mania minha, de esconder algumas garrafas. Da colheita de 2023, ainda jovem, mas já vigoroso e profundo. Há ali arte, saber, despertar. Sobressalto com o palato e namoro, muito, com um vinho portentoso e outra tanto, ou mais, para dar.

Pousado, a abrir, anotei que a vindima de 2023 resultou de ano de pouca chuva, mais quente, com cachos médios a grandes a entrarem nos tegões, embora tenha havido uma diminuição da quantidade, com um agosto a assistir ao começo da grande colheita, sinais dos tempos..

Lagar de Darei Branco 2020

Isto de dizermos sempre que este ou aquele é o melhor vinho, é caminho sem fim. Mas durante anos, o tinto sobretudo, alcei esta Lagar de Darei ao topo. Preferências pessoais. Depois de muito procurar, lá encontraram três garrafas e mordi em duas delas.

O vinho tem personalidade vincada, muito apetecível após quatro colheitas passadas, custou 18 euros, creio, na restauração e teve bailarico com um cordeiro de leite e um “resto” de vitela mirandesa, certificada, que roubei do prato do meu filho. Sim, já vou aos restos.

Chão da Quinta Malvasia Fina 2022

Este é um dos vinhos favoritos da Anita, escolha certa depois de uma surpreendente primeira prova, há alguns anos. Nunca segunda escolha, embora bebamos muito nunca repetimos garrafa nem descartamos o surpreendente, é sempre com prazer que lhe regresso.

Logo no primeiros aromas, rolha tirada, aromas muito finos e delicados, com expressão ao granito e a untuosidade a escorrer pelo Zwiesel, que os copos também merecem o vinho.

Flor de Penalva Branco 2023

Confesso que ao primeiro golo não gostei. Mau serviço de vinho, pensei para comigo, feito, naquela tarde, escansão, que o sou, doméstico. Mais refresco, mais tempo aberto e sim, depois chegou-me o aroma.

Não me entusiasmei. Voltei-lhe passado algum tempo, e talvez a botelha precisasse mais um ano quieta, e topei-lhe fruta, alguma mineralidade e princípios de caboucos na estrutura. Sou assim, o palato é meu.

Este Branco, 4,75 euros em loja, clássico blend, cor citrina.

Serrado Touriga Nacional Rosé 2021

Vem de Penalva do Castelo, onde acaba a reta, quase a descer ao Dão, pela Estrada Nacional 329-1. Um belo proscénio para um vinho cor olho de perdiz, fresco e persistente e que as três vindimas que já leva em cima não destrataram, antes pelo contrário.

Guloso, boa fruta, custou 6,70 euros, em loja. Produzido pela Sociedade Agrícola Castro de Pena Alba, na Quinta do Serrado em Penalva do Castelo, uma das sub-regiões do Dão. Apesar da mudança de proprietários ao longo dos anos, hoje está integrada no Grupo TavFer e não deixa de ser chão antigo.

Florbela Branco 2019

Abri-o a meio da manhã, a pensar na curta distância que me separava do almoço. Deitado no copo borbulhou, mostrando um vinho elegante, com personalidade. Nem esperei um minuto e gritei pela Anita. De nariz apurado, os vinhos são escolha dela, concordou com o veredicto. Um vinho brutal na sua simplicidade, no melhor momento.

Na boca é equilibrado, acidez viva e um final refrescante. O blend é comum no Dão: Malvasia-fina, Bical, Encruzado e sete euros em loja. Bem sei, é preciso procurar o que se quer beber. Uma rica manhã, por uns escassos 4,80 euros.

Adega de Penalva Colheita Rosé 2023

Uma homenagem, justa, aos viticultores exibida no rótulo e um merecimento nestes dias de cinquentenário cá em casa, que nos levaram de regresso a brancos e rosés.

Durante muito tempo, os rosés eram destratados e ainda me lembro, em 2001, quando estagiei na Adega de Tondela, entretanto desmantelada, que eram três tinas de uvas brancas e uma de uvas tintas. E esse rosé, vendido na altura a um euro, satisfez o mercado.

Passarela Fuga Colheita 2022 Tinto

Sofisticado. E outra coisa não seria de esperar, produzido por um dandy dos vinhos. Mas, desenganem-se, o despreendimento é feitio, que naquelas mãos há sabedoria, ciência e ouvidos, para escutar coisas antigas. Equilíbrio e aqui ergo o meu Riedel Vivant a um criador de bons e extraordinários vinhos.

O Passarela Fuga Colheita 2022 Tinto mostra como o equilíbrio de vinhas maturadas com vinhas mais frescas, beneficiando da altitude, é capaz de nos dar prodigiosos vinhos. Um blend, vinificado no lagar.

Barão de Nelas Tinto 2018

A demanda, o quesito, o encontrar a surpresa. É assim em muitas mercearias, de bairro, que no fundo das prateleiras nos presenteiam com esta surpresa. Magro de preço, 5, 48 euros, para tão justo lote.

Fresco, com volume e um final suave, de harmonia com uvas de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro. Mede 13,5º, a marca, de antiga, inspira confiança, as uvas vieram de vindima difícil, mas justa para estas uvas.

O ano de 2018 foi de Inverno frio e seco, Primavera chuvosa, Junho com granizadas e chuvadas, Agosto e Setembro quentes. Sim, 2018 foi um ano imprevisível, mas, no final, trouxe grandes vinhos.

Grande Rota Reserva Tinto 2020

Grande Rota. O nome é reflexivo, a esconder aquele panorama, spot como agora soi dizer-se, que reservamos só para nós. Ou, noutros tempos e ainda nos de hoje, não construam a ponte. Lá temos São Jacinto para o demonstrar. Conhecida a cartografia, aponte-se-lhe bussola. 

Este Grande Rota Reserva 2020 está maduro, lascivo e felino, taninos bem vincados, elegante e bem-comportado perante as carnes gordas, enchidos e hortaliças dos cozidos com que nos aprontamos para Viver a Quaresma. Traçou, ajudou ao desmoer, completou conversas e tornou-se vistoso.

Kelman Reserva Lagar Tinto 2016

Conheci-o pela mão da Inês, generosa, que me o deu ao conhecimento. Lancei-lhe tributo e hoje, nalgumas lojas solta-se um esgotado, mas ainda se encontra o Kelman Reserva Lagar 2016, criado pela Juliana Kelman, numa travessia que teve, e ainda bem, outros exemplos.

Adito-lhe ao rol o pecado da soberba. Que se guarde, enquanto os flancos não cederem, uma botelha para mais tarde. Mancomunado com os seus quase 8 anos, falta-lhe uma vindima para a novena. Chegou, clerical, vermelho carregado, um quase escuro que sobreveio, também, do envelhecimento no carvalho.

Quinta da Fata Encruzado 2020

Saúde a quem no guardou, sabedoria antiga que se verteu em bom copo. Um achado a que se deu tempo ao reencontro, abrir, decanter, copo largo e aspire-se. Fruta, mineralidade, fresco, volumoso. Tudo na justa perfeição. Comedimento circunspecto na guarda, a boca, gulosa, volume e final equilibrado. E fica ali, à minha espera, arejado, sibilino, tentador.

Sim, os brancos e o sobremodo do Encruzado, esperam por nós. Contam-nos segredos, trazem pensamento, estrutura, que dizer, estórias. E não gritam. A singela presença tem o dom de nos vergar ao tempero deste Encruzado. Prebenda, a nós, do Eurico Amaral, família vinhateira, as cepas, ali aquele imenso vinhedo, dum lado e doutro da Nacional 231, galgando socalcos ao Dão, mais acima, uma direita e uma esquerda e eis a Quinta da Fata. As videiras estendidas, a quererem lamber o Dão, um declive soalheiro, a tília a vincar esse rigor antigo e a conversa. Eu e o vinho. Sozinhos. Um com o outro, conversa de primo distante.

Adega Cooperativa de Tazem Encosta da Estrela Branco 2022

No fértil Dão localiza-se Vila Nova de Tazem, marco histórico que ajudou a demarcar a Região e com brancos de estalo. Vinhas em altitude, benefício que pouco ainda repararam, é de lá que chega este Encosta da Estrela Branco 2022.

Produzido pela Adega de Vila Nova de Tazem, creio que começo de gama, foi vindimado na Sub-Região da Serra da Estrela e vinificado em instalações fundadas em 1954.

As vinhas beneficiam da altitude, do Mondego, dos pinhais e olivais e trazem-nos um vinho elegante, fresco e com enorme potencial de guarda.

Cardo Real Tinto 2020

A velhice é um ensinamento, um melhoramento se teimarmos em largar os eufemismos. Assim é, com as pessoas e com o vinho.

Produzido pela Global Wines, abriu-se ao Domingo na varanda, como é costume quando se começa a picar para o almoço. Aroma a frutos, uma subtil madeira, bom volume, taninos robustos e boa acidez. Convenhamos, a idade faz maravilhas. 

Na mesa, um bacalhau com natas, um chili autêntico com milho e jalapeños, batatas-doces fritas polvilhadas de cominhos e coentros, mai-lo feijão vermelho. Boa companhia, para um almoço tardio, acompanhado de vinho de profundo tom vermelho, complexo e muita maturidade.

Dão Meia Encosta Tinto 2023

Voltei ao Borges dos Tintos. A São Simão da Agueira para provar o 2023, mais dois frios e temos ali valente. Já se apresta, tem lá tudo, até uns fabulosos 13º. Porte austero, o mesmo rótulo gravado a relevo e um vinho em sã convivialidade.

Estava de serviço, meia tarde cinzenta e dedos preguiçosos no labor do teclado, puxaram-no do descanso e trouxe-o ao copo. Suave, consistente e persistente no final de boca.

Polivalente, este Meia Encosta Tinto 2023 entregou 4,25 euros ao caixa do supermercado e veio em bom preço para a qualidade e, na cozinha, sejamos frugais, embora seja de compita, demos-lhe na pressa dos dias de semana, tranquilizados com escassa azáfama que foi para isso que inventaram a A Air Fryer..

Vinha Paz Reserva Touriga Nacional 2020

Memória. Assim que lhe atirei os beiços, uma preciosa lembrança de uma vindima. Uma azáfama, ainda nos antes, quadros, controlo, rigor e saber. Corpo e cérebro de médico, uníssonas a fresar labor. E, sejamos enxutos, lavrador. Dos bons. Dos antigos. E dos amigos. Aprendi, do ver e do perguntar gravando e fotografando, muito naquela adega e naquela manhã. Ainda hoje é das minhas estórias mais lembradas. Adiante que se me secam os lábios.

Pujante, monocasta de Touriga Nacional, não lobriguei o clone enxertado nas varas se é que assim foi e creio terá sido, robusto, fornidos 14º, vinho escuro, arquitetado.

Adega de Mangualde Tinto (Coleção do Mocho) 2021

Bebi-o a copo, numa destas tardes em que o mundo nos assoberba e nos desanca a cada passo dado na calçada. O serviço a copo também traz benfeitorias, como beber várias qualidades, se o preço for justo. E este foi, 3,50 euros de pecúnia, a unidade, que eu reverti em quase meia garrafa que, em loja, custa 4,69 euros. Haja juízo e o vinho pode ser âncora na economia.

Este é um vinho de lote, composto a partir de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen, sem passagem por madeira. Airoso e donairoso, é simples no beber, com um longo final e taninos tranquilos nos seus 12, 5º. Chega-me das Terras de Azurara, uma das sete sub-regiões que constituem a Demarcação do Dão.

Cabeça do Mocho Tinto 2021

Um tinto que chega das Camélias, tirei-lhe rumo e agora que se beba, encorrilhado e taninos bem vivos. E esta é bussola perfeita, podendo ir pela ecopista, de carro e distriar o olhar nos vinhedos, nos rios, na montanha. Estivesse a estrada, e as pontes, limpas, os rios cuidados e quintas abertas e esta era rota de perfeição, escalados aqui e ali, meios socalcos.

Não havendo vinhateiros de portas abertas e copos ao serviço, há sempre um boteco, de portas abertas, vinho do produtor, ou do bag europeu, aqui e ali garrafas à escolha, sem lista, mas a pedir olhar rasgado

Quinta das Camélias Dão Doc Tinto Reserva 2022

Arrebitou assim em fim-de tarde, com noite no prenúncio e prelatura da garrafeira. Salta o tinto, para acomodar a tarimba, de cepas bem escorados no granito da Quinta das Camélias, que ao lado tem vinha nova.

A garrafa, essa, de cor vermelha profunda, aroma delicado, bom preenchimento de boca, língua desentaramelada e ele ali fica, taninos sedosos e um toque de madeira. Haja mundo, contemplação e tempo para o sabor.

Das 13.333 garrafas produzidas, e da boa informação disponibilizada pelo produtor, a mim importou-me 7,49 euros a unidade, um vinho precioso, sensível, que ganha quando esperamos um pouco que ele areje. E não é longevo. Ainda. Criado com um dos lotes mais tradicionais do Dão: Alfrocheiro, Jaen e Touriga Nacional, é de fácil trato e fino comportamento.

Adega de Penalva Tinto Touriga Nacional 2020

Não sou devoto de santa Touriga Nacional. Capto-lhe a importância, aprecio-a no lote, em solilóquio foi devaneio domingueiro. Sozinho na bruma, acabei o jornal e, ainda não batiam as onze na igreja, já a botelha respirava. A idade, essa preciosa sabedoria, apontava-lhe quase 5 anos, dos agrícolas. Produzido em 2020, rótulo sábio, bonito, e informativo, calhando ruim haja melhor rolha que se exige. Filtrado e decantado, plácida rudeza, arrebatou à mesa com 13,5º, convenhamos, o ideal para almoço em dia cinzento.

João Cabral de Almeida Musgo Tinto 2022

Soberbo. Mal chegou, arejou, esperou e verteu-se. Um vinho, as arestas do granito pelo bem que me soube, à antiga. Clássico se a escrita ficar mais bonita. Moderno e Cosmopolita, se formos do bem. Pantopolista, pelo rigor. Está ali o musgo, o começo. Bryophyta sensu stricto. A terra, o solo, a vinha.

Ligeiramente untuoso, delicado e, ainda assim, poderoso. Vinho, com taninos bem quinados, pregueados. Abençoadas uvas.

Catedral Caves Velhas Tinto Reserva 2022

“Em Rio Maior só se faz pão!”, adita o petiz quando lhe digo o que verti ao copo, em fim de tarde, vidraça virada à Estrela, noite caída e muita escritura para lavrar.

Seja como for, o engarrafamento do Dão, em Rio Maior, tem história. Longa. Como a das Caves Velhas, 1939; ou tantas outras empresas ali sedadas e no comércio do vinho. Do Nosso. E comerciantes, sonoros, mas que no Dezembro nunca deixaram de pagar aos lavradores, mau grado o resto.

O calendário agrícola 2021-2022 foi ameno, boa amplitude térmica e excelente safra.

Quinta do Cerrado Branco Reserva 2022

Encruzado e Malvasia Fina. Uvas belas, saborosas, delicadas. Fazem bons vinhos. E este é um excelente lote, meio meio, que delicia dias frágeis da alma. Façamos-lhe justiça. Com uma carne de frango, nacional, temperada e pronta a ir a lume flamejante.

Foi para esse, pouco proteico, bife que apontei o Cerrado Branco Reserva, 13ºC para um jantar de semana, previamente aperitivado com dois pares de queijos frescos, salpicados, apimentados e boas ervas.

Morgado de Silgueiros Branco Encruzado 2023

Ainda a precisar de sono, mas já com botelha composta e a reclamar largueza no copo, o Morgado de Silgueiros Branco Encruzado 2023 veio da loja, para desmontar um dos meus mitos, o vinho precisa sempre de duas vindimas em cima, para que as garrafas repousem e ganhem alma. E assim, antes de tempo e preconceituoso, atirei-me a ele, com uns doces 6,32 euros para acompanhar um lombo. Se vai para o pipo, não pode ir para a vitela!

Amarelo, fresco, travesso e endiabrado, assombrou-me o palato, fechei-lhe os lábios e fiquei ali, a pressentir estrutura, untuoso, fresco e a precisar de ser educado, para nosso maior contento, numa boa adega em persistente remanso.

Morgado de Silgueiros Tinto Reserva 2022

“Leitão de mês, cabrito de três”. No forno, com todos os presentes chamados a homília domingueira. O sermão veio do Caramulo, um Cabrito da Serra, que eu confio, embora a cabeça, que come e se come, se regozijasse com o selo da denominação. Adiante. Distração minha.

O Morgado não é absolutista. É nobreza liberal cravada em garrafa fina, vermelho intenso, frutado, equilibrado e um final que, vai não vai. Mais garfo ou mais copo. Finezas, de taninos maduros, amadeirados, e toma-lhe 13, 5º. E bem.

Silgueiros tem luz bonita, sol e abrigo. E adega competente que me a tenho trazido na equipagem. Noutros dias, mudarei rumos, embora este sol de Inverno no Dão seja bucólico, telúrico quando vem nuvem atrevida, feliz e vadio. E vistas as serras, lá do Loureiro, vem-me esse montês, cabrito no barro preto, de Molelos carago, salsa e vinho.

Udaca Dom Divino Branco 2022

A reboque de outras compras, arrumados os 3,49 euros da botelha, refrescou-se enquanto se embrulhavam bacalhau desfiado, batatas e ovo. Um instante de culinária que permitiu agarrar no cigarro e na língua, avançar à varanda, para o desfrute e a conversa de fim de dia.

Delicado, homocromia pois então e já lá vamos, composto e floral, atiçou aromas ao nariz, frescos e frutados.

Produzido pela Udaca, que recolhe os vinhos para depois lotear, mostrou boa acidez, dança segura das castas Cerceal, Malvasia Fina e Bical, vinificadas em bica aberta, assim o tomei pela prova.

Foral de Silgueiros Tinto 2021

A estrada que leva a Silgueiros, por entre vinhas, muros de granito e viçosos prados, é dos caminhos mais belos que conheço para entrar nos vinhedos do Dão. Sim, Santar também, mas creio que, todos, ainda não apreendemos o extremo valor de Silgueiros. Uma e outra são o mesmo Dão, que se atravessa pela ponte que sobe a Póvoa Dão e, ao repente, lá estamos. Adiante que tenho sede.

O Foral de Silgueiros Tinto 2021 entrou em casa vindo do supermercado, por 2,5 euros e foi direto à mesa para acompanhar arroz de pato rico, com o dito desfiado, pimento, chouriço e salpicão no gratinado e golpe no copo.

Caminhos Cruzados Titular Rosé 2022

Desde os seus quatro anos que o meu filho usa o olfato. Foi preocupação madrugadora, para quem nasce no Dão é crime não conhecer a Região e o que ela, generosa, nos oferece. Também nos preocupa a alimentação, carregamos no peixe e nas verduras. Cresce saudável e conhecedor.

Preceituados, alinhámos uma pescada, feijão verde, batata e ovo. Bom azeite, famílias curtas apenas podem ter uma almotolia e este tinha galega, da Beira Interior DOP, baixa acidez e bom unto para as batatas nadarem.

Vinha de Reis Branco 2021

Que nem monges, assim pela meia manhã, provámos o rapaz, ainda a escorrer dos copos e tilintámos. O dia trazia pressa, o vinho pedia vagares.

Um Vinha de Reis Branco Colheita 2021, que chegou mineral, fresco e acidez bem cunhada na estrutura do lote.

Um final de boca longo, doados os 9,90 euros à loja, fomos pela companhia. Uns bifes de novilho, picanha, carne toda de corte fino, temperada a alho e levemente grelhada. No forno umas batatas Noisette, bolinhas de origem francesa, crocantes e interior macio, com um puré sem trigo na massa. E assim, com pouco menos de 30 mil réis, lá botámos jantar, apressado, saboroso e merecido.

Foral de Silgueiros Branco 2023

Salta a rolha e sua excelência diz logo ao que vem. Poderoso e pujante, frutado e mineral. Do muito bom. E barato. E nós, melhores da fleuma, aviamos duas no duro combate dos frios dias deste Inverno.

Apareceu cá em casa, vindo do supermercado, a 2,5 a garrafa e com 13º, este é daqueles vinhos da inquietação. Bebo ou guardo? Os dois. Até eu, que prefiro que passem dozes meses antes de beber um vinho, me surpreendi com o vigor deste branco, produzido na Adega Cooperativa de Silgueiros.

Bando Bico Torto 2021

Vem enrolado o tinto. E traz assinatura no rótulo, mas nem a franqueza me entusiasmou. Monótono. E viajado. A mim, percebo mas não gosto nem devia ser autorizado, inquieta-me ver um vinho do Dão ser engarrafado em Rio Maior e destinado à distribuição.

São três euros de vinho, com tudo para ser feliz, incluindo um bonito rótulo, deposito que deveria vir mencionado e rijo nos 13º.

Vai-se a ver, abre-se a garrafa e vem um ronceiro, uma coisa redonda, aos espasmos, aqui e ali um tanino mais solto, de resto, moleza. Remanchão e chato.

Cabriz Tinto Colheita 2022

Numa tarde já bem merendada, e em segundo prolongamento após grandes penalidades, ribombou este clássico. De fresca data, é certo, mas clássico.

De beber e conversar. E entreter a boca. Não engana.

Ferra o dente. À confiança, sabemos ao que viemos, o primeiro do Dão, dos mais vendidos no mundo, mas, também, os que apagaram o Organic – um dos melhores Dão de todo o sempre, do cardápio.

Contemplou o queijo fresco, pediu chouriço, de carne, mais pão e trinca e bebe.

Chão da Quinta Branco Blend 2022

Chegaram três botelhas, juntinhas e cousa rara, tanta generosidade. Veio num pack promocional e, não fomos comedidos. Perdemos a razão, que não a moderação e largámos à desfilada pouco depois de meio-dia.

De presunto, lascado fino e broa canhestra, filámos os primeiros goles. O lote é feito com Malvasia, que ali brilha também muito bem sem companhia, e Encruzado. Duas bonitas bandeiras na lapela e abre a bica.

Casa da Passarela A Descoberta Rosado 2023

A vindima deste ano trouxe qualidade e mais produção. Trabalho e alguns extremos do clima não deixaram de apoucar as uvas, contudo há rosés, como este, com boa complexidade de nariz e boca.

Um rosé de tintos, em ano em que as vinhas atemparam mais cedo, seca e muito calor, depois chuvas que impuseram cuidados, na vinha e na adega.

Vinha de Reis Rosé 2022

Gosto da quinta e este Jaen, feito em bica aberta, é tudo quanto eu admiro. Mesmo nestes dias de chuva, quando ali tomo aperadeiro com desculpa de aprender e conversar quando tenho é sede.

Bica aberta é técnica de vinificação com a fermentação do mosto separada das partes sólidas da uva. Geralmente utilizado para brancos e rosés. Não foi nada mal, seus valentes, neste Jaen levemente esmagado, uvas sem pele, e vamos.

Senhor da Vinha Tinto, 2021

Destinado ao mercado internacional, ou à grande distribuição, coisa que
ainda não deduzi, volta e meia aparece cá este tinto. Nada de mais, abrir,
cortar salpicão e salame, pão fresco e estaladiço da padaria instantânea e
já nos podemos começar a interrogar sobre o Senhor, enquanto o esparguete
espera, ajudado no emissário pelos cogumelos, azeitonas e queijo, ralado,
fino e poderoso de paladar.

Ladeira da Santa Branco 2022

Já vos falei destes vinhos, numa das extremas do Dão, em Tábua. Produzido na aldeia de São João da Boavista, este Ladeira da Santa Branco 2022 custou-me 5,90 euros e só se encontra em garrafeiras e caves. Exceção, tomo que ainda hoje seja assim, ao retalho alimentar, incluindo o de insígnias nacionais, em Tábua.

Amarelo, cor alimonada, frutado e voluptuoso. Puxa ao conduto. Gordo, untuoso como soi dizer-se, deixa lágrima no copo.

Príncipe do Dão Tinto 2022

O Príncipe do Dão Tinto, bem aviado nos supermercados da praça, é vinho límpido, cor granada, a quem os anos trazem brilho e vetustez, sem deixar de ser macio e de mostrar taninos bem afiados. São 4,41 euros, esportulados para vinho domingueiro e, assumo, merecidos. E em conta.

Grão Vasco Branco 2023

O Grão Vasco é marca institucionalizada no Dão. Melhor homenagem não podia haver, com esta remissão à pintura quinhentista, um fresco vinho, este Branco 2023 que me arrancou da mania de lhe dar dois anos, aos brancos e rosados.

Entronizado pela Sogrape, e já lá vamos, traz a elegância de um clássico. E ser-se clássico é bom, sobremodo este, que chega despretensioso e sóbrio. Um vinho de quotidianos, que trouxe do supermercado, apressado para jantar.

Ponte Pedrinha Branco 2021

Uma ponte e temos vinho. Lá ao alto, seguras as colheitas dos muitos próximos anos, em Gouveia. Cepas da Família Mendes Oliva, a balancear aos trezentos anos na caderneta predial da história. O Ponte Pedrinha já tem notoriedade, assinatura que garante que não vamos passar mal. Desde branco, doutas coisas. Só e apenas.

Moderno, trouxe com os seus 13º, Encruzado e Malvasia Fina. A acidez suportou os anos, sem perder frescura, mas a acentuar minerais.

Mariposa Rosé 2022

Subtil e camuflado. Doce e complicado. A Quinta da Mariposa entrou em casa pela mão da Anita, depois vi que era feito por mão amiga que no Dão somos todos da companha. E se não somos, devíamos ser.

Uma forma, curiosa, de espremer a Touriga Nacional, que lhe respeito o estatuto, mas não tomo privilégio. Veio de uma safra, a de 2022, das mais quentes e secas já registadas, com dias em que o termómetro, esse certificador de meio vinho, subiu bem além dos 34 graus Celsius.

Adro da Sé Encruzado 2022

Incisivo e metediço. Delicado, embalado na madeira, acidez firme. Mas madeira, digo eu que tenho como amigo o enólogo que o criou, reclamava mais exiguidade.

O Adro da Sé Encruzado 2022 é produzido pela União das Adegas Cooperativas do Dão. Vinhos de outras cooperativas, músculo na geografia, e um sustentável viver. Lá iremos.

Quinta do Perdigão Rosé 2021

Está no ponto. Mineral, obra da natureza. Fresco, de bons modos e melhores vibrações. Creio que o bebi, pela primeira vez, em 2007, acho, e fiquei devoto dos rosés do Perdigão.

Pouca extração, mostra-se austero, com boa acidez e um rosé para levar a sério. E quando pensamos que está ali um entradeiro, ele enfia-se, sorrateiro, na mesa e não o largamos. E envelhece. Tranquilamente.

A Quinta do Perdigão são oito hectares de vinha biológica, a 365m de altitude, debruçados ao Rio Dão.

Titular Tinto Colheita 2020

Vi nascer a primeira adega, ali por trás dos Correios, em Nelas. E vi cavar e inaugurar a nova, na Teixuga, a parcela mais valiosa deste produtor, que depois de lançado pelo empresário Paulo Santos, integra hoje o grupo da Pacheca.

Deite no copo, por favor. O Titular Tinto Colheita 2020 é fresco, nada amadeirado, vivo, calibrado e taninos de ferrar dentes

Adega de Penalva Branco Bical 2021


Há uns anos a esta parte, a Adega de Penalva do Castelo desatou a produzir vinhos varietais, de uma casta só, o que, penso eu, foi uma ideia formidável, que tem dados belíssimos resultados. Para mim, acrescento, a suscitar a curiosidade ao bebedor e lição única de rótulo.

O vinho tem modas e mondas, o Dão conheceu os varietais no início deste século, e isso mostra a quem bebe, as castas tradicionais em todo o seu potencial.

Adega de Tazem Pedra da Orca Rosé 2022

A garrafa chamou-me a atenção, ali com o pendão e um inglesado “late release”, ou seja, um lançamento mais tardio.

A Adega de Tazem foi fundada em 1954, sempre no modelo cooperativo que, e ainda bem, teima em resistir. Ao mercado nacional chegou em 1980, com a marca, “Encosta da Estrela”.

Pedra da Orca também é chancela já com pergaminhos, o ouvido já sabe ao que vai.

Porta dos Cavaleiros Caves São João Branco 2020

Porta dos Cavaleiros é marca Dão sobejamente conhecida. O que a minha ignorância nunca tinha bebido fora o branco. Magnifico este, cinco anos depois de embotelhado pelas Caves São João, que sendo na Bairrada têm mantido pé no Dão como podem ler lá em baixo, no Prontuário.

A minha Anita, que me compra o vinho, encontrou esta prosaica botelha na garrafeira, envasilhado pelas Caves São João, fundadas em 1920 pelos irmãos José, Manuel e Albano Costa. 

Ladeira da Santa Rosado 2022

A Santa da Ladeira faz bons vinhos, como este Rosado de 2022, extraído de Touriga Nacional, casta de que sou bebedor não devoto. E surpreendi-me a engolir travos longos entre um queijo de mistura e uma empanadilha de atum com pimento. Ainda haveria de chegar aos chocos, mas aí, gritei, não esperem por mim.

A Ladeira da Santa tem vinho, creio, desde 2008.

Vinha de Reis Reserva Tinto 2019

Há dois, do mesmo ano, contudo de rótulos diferentes. Este é um Reserva e diz-me o caderno de encargos que é distinção para vinhos associados ao ano de colheita, 2019 no apreço.

Dado o grito, tenho como amigos o Jorge Reis e o Miguel Magalhães, este acumula com a missão de me ensinar.

Deitadas as culpas, está pronto a ser evocado. A Quinta, per si, é proscénio para vinhos. De um lado e do outro da Nacional 231, ali moram quatro gerações.

Quinta das Camélias Tinto Syrah 2022

Conheço-a do caminho, mas nunca lá estive. De vinhedos generosos e boa pedra, com vinha nova plantada recentemente, a Quinta das Camélias, em Sabugosa, há muito que produz vinho, embora me falte a memória para saber se este foi o primeiro que bebi desta origem.

Monocasta, varietal ou estreme, mostra-se vermelho, profuso e brilhante.

Reclama comida, muita. Manda-se aos 14º, chega ao queijo e ainda pede chocolate.

Dão Meia Encosta Branco 2023, by Vinhos Borges

É um notável. Uma ocasião, surpreso, encontrei-o em Olhão e com ele foi o
lingueirão. Um dos clássicos do Dão, robusto e a prometer velhice ativa.
Bebi-o novo, não é meu hábito, mas a Anita tem cuidado com as colheitas e
não encontrou anterior, custou seis euros em prateleira de supermercado.

Um dos meus favoritos, diz ao que vem, não há sarilhos e é de boa guarda.
Limpos, um amarelo palha leve, que foge a meio verde se pouso o copo ali no
parapeito da varanda.

Cabriz Doc Dão 2021 (Rosado)

Foi numa corrida ao supermercado, do outro lado de lá da rua. De repente, jantar no fogão e vinho, nenhum. Avançamos pelas prateleiras. O Cabriz dá-me confiança.

Foi lá, também, que tudo recomeçou para o Dão. Com a Dão Sul, em 1989, ideais e crescimento. Sim, outros gigantes aí estão, mas estes estão cá mesmo.

Inspirado, refrescou-se e bebeu-se.

Elpenor 2019 Blanc de Noir Jaen, by Julia Kemper

Finquei pés no rincão e nesse 2019. Ano bom. Longevo, no ponto. E
confesso-vos que precisei de livros e labor para o descortinar. O Elpenor,
foi companheiro de Ulisses nessa mitologia que aponta remo.
E remando pelas prateleiras da garrafeira, topei-o, olhei ao produtor,
fiz-me à vaga.
Blanc de Noir, afazer que nos chegou além Buçaco e se atirou aos vinhos
tranquilos há uns bons três anos, de Jaen.

Abanico Reserva Branco 2022

É lá no alto e já lá estive. Vai para muitos anos, mas a casa existe, a casa das “histórias escritas com vinho”. As “Terras da Passarella”, são sangue que é vinho.

À época a visita foi guiada pelo Paulo Nunes, que quase uma década depois é feitor de vinho.Viajado e sabido.

Como os que fundaram a Casa da Passarella, a altitude na Região Demarcada do Dão.

São Francisco, Encruzado em Chão com Quinta

Possante. E voluptuoso. É o que se me ocorre quando penso no Chão da Quinta
Encruzado Reserva Branco Dão DOC 2019.
Escolha da minha mulher para refeição domingueira, fica ali a meter-se connosco naquela untuosidade típica de um vinho que chora lágrimas quando escorre no copo. E no palato. Também é poderoso, manda-se aos 13º e,
contudo, bebe-se na companhia de alguns cigarros.

Encruzado ao caminho

Mal subi a Pinoca, relampejou-me a vontade de provar o Encruzado 2022, das Fidalgas de Santar, que tinha bebido em 2023.

À época, um dia de sol formoso, celebrávamos o novo restaurante do Henrique Sampaio, o Tertúlia e a presença na sala do João Gouveia Rego, o produtor, empurrou-o na minha mesa.

Tenho esta mania de não beber vinhos do ano anterior, cada palerma com a sua toleima, mas tombámos duas garrafas. O dia ia de calor, a conversa dedicada, o Afonso ia ver mundo, a comida era garantida e ali ficámos, a roer não sei já bem o quê, mas a bebericar o noviço.

Foral outorgado!

Este custou-me pouco menos de três euros no supermercado, marchou com
castanhas num fim de tarde domingueiro. De 2021, o Foral Dom Henrique nasceu
na Adega Cooperativa de Mangualde em 1989, creio ser este o ano em que a
marca foi lançada, dançou com as castanhas, da Lapa, assadas na Air fryer.

Uma Quinta com Reis dentro

A Quinta de Reis, a meia dúzia de quilómetros do centro da cidade de Viseu, permite não só por os dois pés dentro da vinha, como passear a cavalo ou descansar horas a fio numa imensa varanda por onde se espreita o Dão.

A quinta deve o nome ao republicano Amando Ferreira Reis, que em 1924 aqui fez casa. Tem terraço com vista para a Estrela e vinhas onde o médico descobriu nova paixão pois como diz “fazer vinhos é um ato de amor. Desde o carinho que damos às cepas ao desvelo que pomos na vinificação e envelhecimento.

Envelope, by Quinta do Ribeiro Santo

Lembro-me como afora hoje. Depois do Ribeiro das Perdizes e antes da Metalúrgica de meu pai, como quem atravessa a Monheca a caminho do Barrocal. Todos os dias, fosse sol ou geada, a encarnada ali estacionava. Dentro da vermelha, homens febris, esticando braços, apalpando, separando, espalhando. Pouco antes das sete da tarde ali encomendava às que iam na bonda de outras paragens.

Uma Corga no Dão 

As estradas são estreitas, a penedia espreita a cada curva e no ar sente-se o perfume das maças. Visitar Penalva do Castelo é um sufoco pela aspereza das pedras, o agreste das giestas e o viço dos vinhedos. Poderia ser, se quiséssemos brincar com a polifonia das palavras, uma diatribe, mas a verdade é que é neste concelho onde encontramos, sem qualquer desprimor e com um inusitado orgulho, a verdadeira alma beirã.